O concreto foi durante décadas a possibilidade mais eficiente para criar as cidades de maneira rápida e eficaz, mas, atualmente, novas tecnologias estão competindo e começando a oferecer possibilidades até mesmo superiores às oferecidas pelo cimento, incluindo a Madeira Laminada Cruzada, também chamada de Cross Laminated Timber ou CLT.
O material que vem ganhado notoriedade no ramo da construção civil é uma união de tábuas maciças prensadas em camada perpendiculares de forma bem firme, “um compensado denso mesmo, mas em vez de fibras, é feito de lâminas”, como descreve a designer de interiores Raquel Braga do escritório Raquel Braga Interiores.
O diferencial está na junção perpendicular, que permite a fabricação de placas bem grandes (12 metros de largura x 3,00 ou 4,00 metros de altura). Ou seja, além de vigas, tetos e pergolados, também podemos construir paredes com elas e até edifícios inteiros. O transporte, segundo Raquel, é feito com as placas já cortadas, seguindo o projeto, o que facilita o trânsito das peças e, depois, a execução na obra.
“Imagine que ele pode ser usado e montado como o drywall, escondendo as tubulações entre os painéis, criando isolamento acústico e térmico, mas com uma vantagem: como o próprio material já vem quase finalizado, pode ser utilizado sem revestimento. É possível aplicar, mas não precisa. Quando usado em ambiente interno, um simples óleo vegetal mantém a madeira hidratada e natural”, afirma ela.
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Além disso, o produto funciona como piso e como estrutura. Algumas empresas utilizam uma manta de concreto entre as lajes de CLT como segurança contra incêndios, já que o método impede que o fogo passe de uma laje para outra.
“Aqui no Brasil, o uso da madeira laminada cruzada ainda é baixo, do meu ponto de vista, e temos poucas empresas especializadas. Somos um País que gosta da alvenaria com tijolo e de construções sem muito planejamento, mas no exterior essa técnica já é muito aplicada para construção interna e externa”, aponta a designer de interiores.
Em Sydney, por exemplo, o prédio híbrido da Atlassian, projetado pelos arquitetos da SHoP (Nova Iorque) em parceria com o escritório de arquitetura australiano BVN e a empresa de engenharia Eckersley O´Callaghan, mescla o aço e o vidro com muita CLT.
Braga conta que em Brumunddal, Noruega, há também o Mjosa Tower, um prédio quase 100% de madeira laminada cruzada. “Não podemos dizer que é 100% porque temos janelas com caixilhos e outros elementos necessários, porém o escritório de arquitetura Voll Arkitekter preferiu a CLT dentro e fora do edifício.”
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Para começar, o material oferece a mesma resistência que o concreto armado, mas é mais flexível, mais resistente a atritos e mais leve. Outra vantagem é o grau de isolamento. Ou seja, proporciona otimização de espaço. Além do mais, o material tem menos impacto ambiental que o concreto. Sendo produzida com madeira de reflorestamento e considerando que sua produção consome menos energia que o aço, concreto e alumínio, trata-se de uma opção mais ecológica.
“Também podemos analisar que a execução de uma obra com CLT é limpa e seca. Elimina boa parte do canteiro de obras, tempo e desperdício de materiais. Para a construção de uma casa de 200 m², por exemplo, demanda cerca de 4 pessoas e 5 dias para montagem”, ressalta Raquel.
As desvantagens podem estar relacionadas à inflamação em caso de incêndio. “A estrutura em CLT é muito densa, cria uma camada de carbono que funciona como uma barreira para o oxigênio. Quando temos pouco oxigênio, o fogo demora mais para se propagar. Então, se fornecida por uma empresa correta, como a Crosslam, a CLT pode ser projetada para resistir a uma chama intensa por 120 minutos sem comprometer a estrutura do prédio”, explica.
Outro ponto importante na execução da obra para garantir proteção antichamas é minimizar vazios (áreas com ar) entres os elementos que compõe a estrutura, como as ferragens e juntas. É importante diminuir ao máximo fendas e espaços abertos entre os materiais.
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Por fim, a outra desvantagem é a umidade e o clima. A composição sofre com o sol, a chuva e a umidade. Portanto, para protegê-la, deve-se adotar as proteções e manutenções que o material exige ou revesti-lo como se fosse uma parede (tijolo, fibrocimento, pedras etc).
O primeiro cuidado é saber a procedência: é de reflorestamento? Certificado? O uso será interno ou externo? Em seguida, cuidados com a execução. A equipe precisa saber como proceder durante a edificação e é sempre melhor procurar por empresas especializadas.
Depois, manutenção a cada cinco anos mais ou menos. Em ambientes internos, deve-se passar um óleo vegetal. O próprio fornecedor indica o produto mais adequado. “É importante lembrar que óleo não é verniz! O óleo vegetal é o hidratante da madeira. Assim como nós usamos hidratantes (seja em creme ou em óleo) para nossa pele, o produto também precisa desse cuidado. E a aplicação é fácil (é só seguir as instruções da embalagem). Em ambientes externos, recomendamos as tintas minerais, que não descascam com a umidade e deixam a placa respirar (além de não agredirem o meio-ambiente)”, conclui Raquel.