Do concreto ao metaverso, o mercado imobiliário vem sofrendo transformações. Os avanços da tecnologia estão cada vez mais presentes na construção civil que, antes vista como conservadora, aparece agora na vanguarda de algumas das revoluções recentes.
Robôs executam funções dentro de canteiros de obras e a venda de terrenos digitais movimentaram quase US$ 2 bilhões em 2021. No entanto, a epifania que impulsionou o engenheiro de produção Leonardo Delfino a tentar inovar no mercado imobiliário foi promovida por um episódio casual.
O jovem morador da cidade de Santos, no litoral paulista, não passou intacto pela febre criada pelo jogo Pokemon Go, que marcou uma geração após seu lançamento, em 2016. Ver multidões saindo de casa com o celular na mão enquanto procuravam por criaturas projetadas pela realidade aumentada suscitou a ideia de implementar a tecnologia em um setor com potencial de adotá-la.
Dessa elaboração surgiu a Criando Valor, uma empresa que usa realidade aumentada e realidade virtual para desenvolver soluções para a construção civil. Um dos carros-chefes da companhia são as maquetes 3D. Evolução das maquetes físicas – que ocupavam boa parte do espaço físico dos stands de venda de incorporadoras espalhados pelas cidades –, as maquetes virtuais podem até mesmo oferecer uma experiência imersiva na visitação de um decorado.
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“Após recebermos o projeto do empreendimento, nós modelamos um prédio 3D em formato digital. Dessa forma, os clientes nem precisam visitar o stand, pois conseguem visualizar o empreendimento em casa, por meio de um aplicativo”, explica Delfino, CEO da empresa. “Basta apontar a câmera para um plano que ele vai conseguir enxergar, com direito a detalhes como a água mexendo na piscina”, complementa.
Na prática, o consumidor interessado no imóvel consegue baixar um app, abrir a câmera e mirar em um terreno plano, como uma mesa lisa. E, então, na tela do celular surge o prédio. O usuário pode aumentar, diminuir ou mudar os ângulos da imagem 3D pinçando com os dedos. “Tivemos aumento de 850% na procura neste ano”, garante Delfino.
Quem também encontrou no uso de imagens 3D uma forma de inovar no setor foi a arquiteta Luciana Mendes. Moradora de Balneário Camboriú, ela conta que, logo após voltar de um período ausente por conta da licença-maternidade, estava enfrentando dificuldades para conseguir novos clientes. Nesse momento, ela entendeu que a população não estava disposta a pagar milhares de reais por um projeto de decoração.
“Queríamos transformar o cenário para que as pessoas pudessem se beneficiar do que a decoração é capaz de proporcionar”, comenta Luciana. Ao lado da co-fundadora Gabriela Accorsi, deu início a ideia do La Decora, uma startup de projetos de decoração online. Com investimento de cerca de 800 mil reais, elas criaram uma plataforma para democratizar o acesso a projetos de decoração.
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Hoje, o La Decora oferece um aplicativo que automatiza parte do processo para torná-lo mais acessível. Por meio da ferramenta, o usuário responde em torno de 50 perguntas sobre preferências de decoração para que os arquitetos da companhia desenvolvam o projeto a partir da pesquisa prévia. Em até 5 dias, o cliente recebe imagens 3D de como a residência vai ficar.
Luciana conta que um projeto de decoração que demoraria até 30 horas para ser executado atualmente é feito em menos de duas. Não à toa, a companhia passou a fazer parceria com grandes empresas, como a Tok & Stok e Remax, para ofertar a solução em formato white label. Com a expansão da clientela, a La Decora criou um setor de inteligência de dados para aprender a ler as informações coletadas.
“A partir daí passamos a ter estatísticas do que as pessoas estão buscando para as suas casas. Quais são suas preferências de cor, hábitos para morar…”, resume a arquiteta. “Dessa forma, conseguimos ajudar as imobiliárias a organizar, decorar e mobiliar seus apartamentos para que eles fiquem mais fáceis de locar, de acordo com a demanda dos brasileiros.”
De acordo com dados da plataforma, 67% dos consultados preferem tons claros, enquanto apenas 33% escolhem tons mais escuros. Entre as cadeiras, a executiva (47%) é a escolha principal, seguida pela estofada com rodinhas (25%), a gamer (19%) e, por fim, a simples e leve (9%). Já o móvel preferido para guardar os livros são as prateleiras (41%), enquanto 37% dos respondentes optam por estantes abertas e 22% por armários fechados.
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“Quando a gente fala de decoração, parece que estamos falando de beleza, de estética, mas a relação é maior com o bem-estar. O ambiente faz com que a gente se transforme, que a gente tenha mais tranquilidade e autoestima”, justifica Luciana.