A população do Brasil está envelhecendo rapidamente, dia após dia. Isso não significa, porém, que envelhecer no Brasil é algo simples ou fácil. Urbanistas, movimentos sociais e o Poder Público debatem iniciativas e propostas para melhorar a relação das pessoas com as cidades. A realidade, no entanto, mostra que a vida para os idosos ainda precisa melhorar bastante.
A estimativa da OMS é de que, até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos, no mundo, vai duplicar. No Brasil, um em cada três brasileiros deverá ser idoso. Se as prospecções estiverem corretas, a população brasileira será a sexta mais envelhecida do planeta. Esse cenário interfere em questões relacionadas à saúde, à previdência e a inúmeros outros aspectos, mas, também, à habitação e à mobilidade urbana.
As projeções do Seade para a população paulista em 2021 indicam que existem 83 pessoas de 60 anos ou mais para cada 100 jovens com menos de 15 anos. Os idosos, entretanto, não estão distribuídos de forma hegemônica pela capital. O levantamento de indicadores sociodemográficos da população idosa, divulgado pela prefeitura de São Paulo em 2020, mostra que 27,9% dos moradores do Alto de Pinheiros são idosos, enquanto a proporção corresponde a apenas 8,1% no distrito de Anhanguera.
Essa assimetria é reflexo da expectativa e da qualidade de vida das pessoas que vivem nessas regiões. Para ter ideia, o Mapa da Desigualdade 2021, realizado pela Rede Nossa São Paulo, mostra que a idade média ao morrer, em Alto de Pinheiros, é de 80,9 anos. Ao passo que, em Anhanguera, as pessoas morrem, em média, com 58,6 – à frente, apenas, do distrito de Cidade Tiradentes (58,3).
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“A cidade é desigual e as questões relacionadas à mobilidade, infelizmente, ainda variam muito, a depender de onde a pessoa mora”, lamenta Renato Souza, coordenador de Políticas para Pessoas Idosas, da prefeitura de São Paulo. “Se o indivíduo mora na região central, a qualidade de acesso é bem melhor do que a de quem vive numa periferia”, exemplifica.
Ele explica que o mesmo acontece com tópicos, como a arborização das calçadas, os meios de cultura, de lazer, e a distribuição de serviços para essa população. Porém, para ele, essa transformação é um projeto em andamento. “São Paulo tem melhorado nos últimos anos. Pensando em segurança no trânsito, acessibilidade em esquinas e outras intervenções que podem melhorar a relação dos idosos com a cidade”, pontua.
“A questão passa por entender melhor as necessidades dos vários tipos de cidadão. A cidade precisa estar mais preparada para os idosos e, dessa forma, estará também pronta para atender melhor a outros públicos, como crianças e deficientes físicos”, defende Karin Regina de Castro Marins, professora do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (USP).
A professora desenvolveu uma cartilha que busca orientar o desenho urbano das cidades para melhorar a qualidade de vida da população idosa com base na caminhabilidade, ou seja, na concepção de espaços que possam ser acessados a pé. Na prática, isso significa reorganizar parâmetros que vão desde o alargamento e a implantação de corrimão nas calçadas até as mudanças nos projetos de pavimentação públicos.
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Essas sugestões se estendem a bancos espalhados ao longo do trajeto para que os idosos possam descansar, aumento da arborização para incentivar as caminhadas, adaptações na iluminação pública, gerenciamento eficiente do tempo em que o semáforo fica aberto para atender à velocidade de caminhada desse público e espalhamento de comércios e serviços de lazer.
“Existe a necessidade de aprimoramento em diversas instalações, sistemas de serviços e da própria estrutura urbana”, aponta Marins. “É importante propiciar uma mobilidade mais autônoma aos idosos, criando percursos que eles possam fazer de forma segura. A população idosa precisa de facilitação, inclusão, aproximação social”, arremata.
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