A revisão do plano diretor, a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida e a expectativa da diminuição da taxa de juros são fatores que projetam o crescimento exponencial do setor imobiliário brasileiro, um dos principais segmentos para a economia do país. No entanto, esse crescimento é pasteurizado.
Nos eventos do setor, quase encontro representantes de empresas e entidades do mercado com o mesmo perfil social, faixa etária e histórico de aprendizagem. São pessoas que reproduzem, por meio de suas atuações e produtos imobiliários, o mesmo padrão estrutural e arquitetônico, com alguns poucos fatores reais de diferenciação.
Um mercado que tem “o sonho da casa própria” e a “localização” como fatores decisivos de compra, cresce em direção a uma padronização de produtos, com a única segmentação de mercado percebida no valor do metro quadrado.
A oferta de produtos de mercado primário é carente de lançamentos inovadores, seja em metodologias construtivas, seja no uso de materiais renováveis ou em soluções de arquitetura que conversem com a cultura local. O setor, hoje, vive uma crise de identidade, que se reflete em obstáculos e dificuldades para os consumidores fecharem a compra.
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O processo da padronização pela busca da qualidade pode ir além. E é aí que temos uma janela de oportunidades. Em um mercado tão estagnado em metodologias construtivas e de produtos, a solução pode vir da entrega de impacto social por empresas e empresários do setor.
Uma indústria que mobiliza 7% do PIB e é responsável pela geração de 10% dos empregos nacionais, de acordo com a Abrainc, tem enorme responsabilidade. Isso vai além da lucratividade das empresas e de seus acionistas, pré-requisito básico para qualquer companhia que atue numa economia capitalista.
Com a digitalização e o uso da tecnologia, a indústria da construção precisa assumir compromisso com a governança empresarial, por meio da maior transparência em processos e transações. É necessária a implementação de recursos tecnológicos seguros e que garantam aos consumidores a veracidade nas aquisições, por meio da maior rastreabilidade e padronização de processos.
A expectativa é que essas medidas enxuguem burocracias e aproxime as pontas na jornada de compra. Estamos em um caminho que deve seguir em direção à sustentabilidade ambiental nos empreendimentos e em empresas do segmento, reduzindo emissões de carbono e o consumo de materiais, por exemplo.
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Estamos na reta final da Agenda 2030, um marco no compromisso pelas ações conscientes de melhoria do planeta e da sociedade. A habitação é um pilar fundamental para a conquista de ações de melhoria, considerando que a indústria da construção civil é uma das mais poluentes do mundo.
Quem antes tinha dúvidas sobre o aquecimento global e os reflexos na nossa vida cotidiana, possivelmente reconsiderou sua opinião nos últimos dias de inverno, quando a temperatura em São Paulo atingiu 35º C.
À medida que os consumidores são instruídos sobre os benefícios de um processo produtivo criterioso e preocupado com os impactos socioambientais, os fatores de decisão pela compra do imóvel deverão, necessariamente, incluir, a posição que empresas e empresários ocupam no mapa pela transformação social e ambiental do País.
Neste processo de padronização extrema, o fator de diferenciação estará em quem impacta mais positivamente a cidade e a sociedade. É chegada a hora de não apenas construir, mas de edificar com propósito, de erguer não apenas estruturas, mas também oportunidades. Que cada projeto seja mais do que um empreendimento imobiliário, mas um marco em direção a um imobiliário mais responsável e inclusivo para todos.
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