Ao contrário dos setores financeiro, educacional ou de saúde, a construção civil ocupa pouco espaço no rol das startups brasileiras, representando 3% do total, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Além disso, não há nenhum unicórnio (companhia avaliada em mais de US$ 1 bilhão) desse segmento entre os 23 nomes que ocupam esse seleto clube. Mas a oportunidade no ramo é grande, já que o “canteiro de obras” é um dos setores menos digitalizados, mas mais importantes da economia nacional.
Tijolo por tijolo, as startups da construção civil (ou “construtechs”) vêm construindo o seu lugar no ecossistema de inovação brasileiro, focando em tarefas específicas para reduzir custos e agilizar processos. É o caso da Ambar, que levantou US$ 36 milhões em dezembro de 2021. A empresa trabalha em duas frentes: em uma, produz peças modulares (como se fossem peças de Lego) para compor sistemas hidráulicos e elétricos. Em outra, desenvolve um software para gerenciamento de funcionários e documentação de uma obra.
“Nós queremos ser o ‘Google Drive’ da construção civil”, diz ao Estadão o presidente executivo da Ambar, Bruno Balbinot — ele se refere à ferramenta da gigante da tecnologia americana, que oferece uma gama de serviços em nuvem para o mundo corporativo. Fundada em 2013, a startup planeja operar no azul em 2022, quando espera somar 13 mil clientes — hoje, são 2 mil. “Estamos construindo um ecossistema de soluções para simplificar obras, ajudando construtoras e incorporadoras.”
Como ocorreu em outros segmentos, Ambar e construtechs sofreram com o início da pandemia de covid, que assustou investidores. Porém, a digitalização que veio na sequência também beneficiou a construção civil, que foi considerada serviço essencial no Brasil e continuou em obras. Isso, somados aos juros básicos em patamar mais baixo da história do País (a Selic chegou a 2% ao ano), tornou o cenário perfeito para que essas startups se catapultassem.
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“Nesse período, muita gente precisou rever seus lares, o que aumentou a demanda por novas obras e empreendimentos. E também usamos o contexto de digitalização e de eliminação do contato físico para incentivar a não utilização do papel nos canteiros”, conta Diego Mendes, fundador e presidente executivo da Construcode, de assinatura e revisão de documentos por meio de códigos QR. A plataforma também utiliza inteligência artificial (IA) para recomendações preditivas nas obras, evitando erros.
A startup, cujo serviço é atualmente utilizado em 1,4 mil obras pelo País, é controlada pela Trutec, ecossistema da gigante Vedacit que reúne outras 12 companhias de tecnologia especializadas em construção.
Apesar do impulso, algumas dificuldades esperam as construtechs em 2022. Este ano traz um novo ciclo de alta dos juros básicos em todo o mundo, incluindo o Brasil, onde a taxa da Selic ultrapassa os 10% e pode ter pico de 12,5%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. Intensiva no uso de crédito, a construção civil é seriamente afetada por um cenário de empréstimos mais caros.
Além disso, a inflação é especialmente cruel com esse segmento, em que a alta dos preços dos materiais atinge negativamente as obras — o que exige novos cálculos e novos orçamentos, atrasando entregas. As startups, porém, são otimistas e reafirmam o lema do ecossistema de inovação: a crise é uma oportunidade de crescimento.
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