A ideia de uma vida com menos pertences e mais experiências começou a conquistar adeptos nos últimos anos. Em 2017, o filme Minimalismo: Um Documentário Sobre as Coisas Importantes mostrou a experiência de Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus. Os amigos largaram seus salários de US$ 50 mil em empregos bem estabelecidos para viver com pouco, viajar e compartilhar suas reflexões. Desde então, conceitos como simplicidade, mobilidade e leveza passaram a figurar como prioridades na busca pela qualidade de vida.
O engenheiro Marcelo Severino, de 38 anos, apostou na ideia. Ele paga R$ 1.650 – somando impostos, aluguel e condomínio – por um quarto de 14 m2 no edifício Vita Bom Retiro. “Eu poderia morar com o meu pai num apartamento de 200 m2, que fica no extremo sul da cidade, a 25 km de distância. Mas aqui fico a cerca de 500 metros de onde trabalho”, conta. “E essa decisão me atende superbem. É um custo para moradia que não acho alto para São Paulo, principalmente pelo que o condomínio oferece”, afirma. O engenheiro, além de não passar os fins de semana em casa, é do tipo que viaja muito a trabalho e está acostumado a se hospedar em quartos pequenos de hotel.
Ter menos trabalho com a manutenção e limpeza do lar e, de quebra, mais acesso a serviços e áreas compartilhadas reduz consideravelmente a necessidade de locomoção e os gastos domésticos individuais. Algumas empresas de São Paulo têm investido cada vez mais em localizações estratégicas na cidade e em infraestrutura sofisticada. São espaços que oferecem desde lavanderia compartilhada até coworking e salas de cinema. Tudo no mesmo endereço, sem precisar sair do condomínio onde mora.
O conceito dos estúdios partiu dos lofts norte-americanos e o objetivo é aproveitar os espaços da melhor forma possível. A ideia é que os apartamentos pequenos se adaptam melhor a grandes prioridades. Isso porque, ao atender as pessoas que passam muito tempo fora de casa e os que vivem a primeira experiência de morar sozinho, o investimento se orienta pela estrutura de serviços oferecida e não pelo metro quadrado.
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Os estúdios de 10 m2 são a aposta da Vitacon. De acordo com a empresa, estes são os menores apartamentos da América Latina. O edifício Novo Higienópolis, que também abriga unidades de tamanhos maiores, de até 77 m2, foi construído no bairro de Higienópolis e o lançamento está previsto para dezembro deste ano. A estrutura dispõe de serviços como cinebar, horta compartilhada, guarda-entregas, bicicletas, ferramentas compartilhadas, academia equipada e fechadura biométrica.
“A moradia compacta é uma forma de torná-la mais acessível. Além de prática, permitimos que pessoas morem em regiões com mobilidade privilegiada, antes acessível apenas a grupos de alto poder aquisitivo”, afirma Alexandre Lafer Frankel, CEO da empresa. O metro quadrado do empreendimento custará R$ 9.900. As unidades de 10m2, portanto, saem por R$ 99 mil.
Além da facilidade de acesso ao transporte e aos equipamentos públicos dispostos pelo centro, o prédio ainda oferece veículos compartilhados e área de estacionamento para carros de aplicativo.
Já a Setin Incorporadora investiu no edifício residencial Downtown São Luís, localizado numa das esquinas da Rua da Consolação, com apartamentos de no máximo 20 m2. A empresa inovou ao oferecer uma sala para os serviços de entrega, um espaço do condomínio reservado para quem tem o costume de fazer as compras de casa pela internet ou por aplicativos.
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Eduardo Pompeo, diretor de Incorporação da empresa, explica que os empreendimentos mais recentes apostam nos novos modais de transporte e reduziram em quase 80% o número das vagas de garagem. “A questão da mobilidade é diferente do que era cinco anos atrás. O carro aqui não é um diferencial, não há demanda para ele”, explica. Para o diretor, itens como academia estruturada, espaço gourmet multiuso, piscina e lavanderia coletiva são quase obrigatórios nos projetos de apartamentos compactos.
Veja o que os apartamentos compactos oferecem a seus moradores:
privilegiada A maioria dos empreendimentos do tipo em São Paulo está localizada em regiões de fácil acesso ao transporte público e aos meios compartilhados. Além disso, alguns oferecem patinetes e bicicletas dentro do próprio condomínio.
Além da segurança redobrada, os prédios contam com equipamentos de área comum como academia, lavanderia, salão de jogos e espaço gourmet. Soluções inteligentes Os estúdios exigem que móveis sirvam para mais de uma função. Mesas retráteis e multifuncionais, suportes de TV giratórios e estantes vazadas são alguns dos itens que ajudam na valorização do espaço.
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Ambientes como uma grande cozinha ou sala de estar, escritório e lavanderia saem de dentro do apartamento e passam a fazer parte do edifício. E isso se reflete diretamente em redução de custo do imóvel e de despesas domésticas.
Se o morador é alguém que passa muito tempo fora de casa, um imóvel de médio porte seria subutilizado. Mas a necessidade de manutenção da infraestrutura e da limpeza do espaço pessoal pode onerar o cotidiano com afazeres domésticos.
Tendências atuais, como consumir menos, produzir menos lixo e reduzir impactos ambientais, estão contempladas na escolha de quem opta por apartamentos menores. Trata-se de uma alternativa para viver melhor, com menos esforço e desperdício.