Apesar do pacote de ajuste fiscal apresentado pelo Governo Federal nesta quinta-feira, a perspectiva do mercado é que o Brasil viva uma crise fiscal nos próximos anos. Segundo Rafaela Vitoria, Economista-chefe e diretora de Relações com Investidores do Banco Inter, a medida é um passo na direção correta, mas um movimento ainda incipiente.
Em painel no Summit Imobiliário, evento promovido pelo Estadão e pelo Secovi-SP para debater o presente e o futuro do mercado imobiliário no Brasil, a economista alertou para um cenário de incertezas em 2025. “A inflação baixa e controlada é o principal motor para o crescimento do setor, mas o quadro não é positivo”, comenta.
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“Teremos um novo aperto monetário e, depois de começar 2024 com uma expectativa de queda da Selic para 8%, agora os economistas discutem a Selic chegando a até 14% no próximo ano”, narra Vitoria.
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Para ela, o ambiente se tornou mais complexo nos últimos dois anos. “O principal gargalo da economia brasileira está no orçamento público, em que o governo gasta mais do que arrecada”, comenta. “No Brasil, vemos o crescimento de gastos contaminados. Cometemos o erro de aumentar os gastos à frente das receitas achando que isso vai compensar, mas não é o suficiente”, alerta.
O retrato atual da economia é o que justifica a cautela da executiva, em contraste ao crescimento de 3,3% do PIB e a queda do desemprego para 6,4%. “A economia brasileira responde muito bem a estímulos e aumento de gastos do governo. Porém, isto não é duradouro. Precisamos de uma correção de rumo para que o crescimento seja sustentável”.
“A chave está nas mãos do governo – principalmente a construção fiscal. Não devemos fugir de decisões impopulares para ter um avanço a médio e longo prazo. Prova disso é que boa parte do crescimento atual é reflexo das reformas que foram realizadas entre 2016 e 2022”, exemplifica. “A reforma trabalhista, por exemplo, permitiu maior flexibilidade, mas ainda tem espaço para melhorias”.
Não à toa, Vitoria celebra as alterações de rota antecipadas pelo poder público, como o pacote de ajuste fiscal. Ela diz que são medidas tímidas e insuficientes, que vão continuar pressionando a taxa de juros, mas estão na linha correta.
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A economista também destaca o aumento de subsídios para o Minha Casa, Minha Vida e a recuperação do PIB de construção como sinais desta recuperação.
“Cortar gastos no Brasil é muito difícil, principalmente em programas já implementados. Porém, limitando o crescimento dos gastos caminhamos naturalmente para os ajustes fiscais”, afirma. “O Brasil é um País que chega sempre à beira do precipício e consegue dar um passo para trás”, ilustra.