O mercado está atento à cenário do endividamento das empresas. Sem alternativa de buscar dinheiro na Bolsa e no exterior – completamente fechados por conta da alta de juros nos EUA -, mais companhias têm recorrido a emissão de títulos de dívida, cuja demanda por parte dos investidores está super aquecida.
Só que tomar recursos pagando 4% de juros é muito mais fácil de administrar dentro de um negócio minimamente rentável, como acontecia até o ano passado, do que pagar 20% pelo empréstimo.
Essa realidade já está presente em empresas que têm “menos qualidade”, diz o responsável pela área de renda fixa de um grande banco. O movimento é tão preocupante que instituições têm evitado ou recusado algumas emissões de dívidas, de companhias consideradas mais arriscadas.
No radar estão o aumento de situações de estresse financeiro ou até atraso de pagamento de dívidas, especialmente em setores como varejo e áreas correlatas e no segmento de construção e imobiliário. São companhias que vendem a um consumidor com menos poder de compra, ao mesmo tempo que têm pago mais caro pelos empréstimos.
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Por outro lado, “o fluxo de dinheiro entrando nos fundos de renda fixa é enorme, com muitos investidores, incluindo gestoras de recursos, comprado papéis nos quais esse risco não está bem precificado”, diz a fonte. Assim, o risco seria maior tanto para a pessoa física, que está financiando empresas menos sólidas sem saber, quanto para gestoras que têm demanda e obrigação de remunerar os recursos sob seus cuidados.
Com essa perspectiva de cenário, alguns gestores de renda fixa já mudaram sua abordagem na compra de títulos. O sócio e gestor da Galápagos Capital, Gilberto Paim, tem procurado adquirir títulos de empresas cujos vencimentos acontecerão no curto prazo. Também tem preferido comprar papéis no mercado secundário, no qual os preços são melhores, uma vez que a demanda é grande no lançamento dos papéis.
O diretor de renda fixa e produtos estruturados do Itaú BBA, Felipe Wilberg, diz que o mercado está estável em termos de risco neste momento, mas que seria mais saudável se houvesse menor concentração de investidores e empresas nessa frente de captações. Segundo ele, a demanda elevada traz muitos novos aplicadores e empresas estreantes e, ao contrário de outros países, o Brasil não cresceu com o fim do período mais crítico da pandemia e, ao mesmo tempo, o poder de compra diminuiu.
A concentração de recursos no mercado de renda fixa trouxe problemas à indústria em 2019. No entanto, naquela ocasião, os motivos foram opostos. A Selic engatava uma rota de queda, dando tração ao mercado de ações, que culminou em volumes de emissões recorde nos dois anos seguintes. Os fundos de renda fixa perderam enorme quantidade de recursos e vários tiveram de fazer dinheiro em curto espaço de tempo para cumprir com os resgates.
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A diferença do cenário hoje, diz o responsável pelo mercado de renda fixa do Bradesco BBI, Rafael Garcia, é que o CDI está alto e eventuais correções nos prêmios não prejudicariam o retorno como um todo. Ele não espera, de toda forma, uma correção. “Hoje não temos o mercado de ações oferecendo retornos elevados como naquela época, então, mesmo com um retorno menor, o investidor não tem para onde ir”, afirma.
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