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Quarentena: é hora de adotar um cachorrinho?

Embora o cuidado com animais seja considerado um serviço essencial, muitos veterinários e fornecedores de suprimentos reduziram os serviços ou fecharam temporariamente/ Crédito: Trisha Krauss
Ronda Kaysen, do The New York Times
07-05-2020 - Tempo de leitura: 6 minutos

Quantas semanas de isolamento social são necessárias para desejar um filhote? Para Julie Taylor, escritora e produtora de TV em Glendale, Califórnia, duas semanas foram o suficiente. Presa em casa com o marido e dois filhos adolescentes, seguindo ordens de ficar em casa por causa do coronavírus, em meados de março ela começou a sentir vontade de um bichinho peludo, feliz e alheio ao estresse que acontecia ao seu redor.

“Isso me atingiu assim que nos trancamos. Eu realmente queria um cachorro”, diz Taylor, 48 anos. “Posso ligar o noticiário à noite e três horas depois ainda estou assistindo. Sou sugada. Esperava que um cachorro pudesse me ajudar a estar mais presente no momento.” Então, no início deste mês, a família adotou, por meio de um amigo, um pug de 8 meses chamado Bentley, transformando imediatamente a rotina sombria de antes. Para os adolescentes, o filhote ofereceu um alívio da decepção de uma sociabilização atrofiada. Bentley “tem sido uma distração rápida”, conta Taylor. “Ele trouxe muita vida à casa”.

Em questão de semanas, nossas vidas foram radicalmente alteradas. Os calendários sociais foram apagados, deixando muitos de nós com muito tempo de sobra. E então, que melhor maneira de preencher o tempo e o silêncio do que com um companheiro peludo? Prevejo filhotes, gatinhos, coelhos, hamsters e até alguns ratos, todos encontrando novas casas entre os confinados por causa da COVID-19.

No Petfinder.com, as consultas de adoção nas quatro semanas entre 15 de março e 15 de abril aumentaram 122% em relação às quatro semanas anteriores. Os americanos também estão promovendo adoções, pois os abrigos procuram esvaziar suas instalações durante a pandemia. Desde 15 de março, mais de 1.500 pessoas concluíram pedidos de adoção online para os programas da ASPCA em Nova York e Los Angeles, aumento de 500% em comparação com os números de pedidos típicos normalmente vistos nesse período.

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“Trazer uma nova vida para casa é um ato de otimismo”, afirma Judith Harbour, assistente social clínica licenciada do Animal Medical Center, na East 62nd Street, em Manhattan, apontando que muitos animais em abrigos precisam de lares neste momento. “Esta é uma ideia que as pessoas podem ter: posso fazer essa boa ação agora.”

Um animal de estimação também é uma maneira de recuperar o controle de uma vida que parece descontrolada. Nossa rotina pode ser descartada, mas os cães ainda precisam ser passeados, alimentados, limpos e nutridos. A programação de um animal de estimação nos tira da cama e talvez até do pijama e saímos para a rua a fim de tomar um pouco de ar fresco.

Também procuramos maneiras de combater o tédio e a solidão da quarentena, recorrendo a compras online, festival da Netflix e lives com amigos e familiares que talvez não consigamos abraçar por meses. Mas, diferentemente de nossos companheiros virtuais, um animal de estimação está realmente no sofá ao nosso lado, rompendo o isolamento.

Alegria e afeto

Kit Bonson, neurocientista de Silver Spring, Maryland, teve a intuição de adotar dois coelhos no dia 8 de março, antes de muitos Estados fecharem. Ela imaginou que o país estava indo para um hiato coletivo, então foi a uma feira da House Rabbit Society em busca de um animal adotivo.

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“Eu queria ter companhia se de fato parássemos”, conta Bonson, 57 anos, que mora sozinha. Ela encontrou dois: um coelhinho branco com olhos de rubi e uma chita branca com uma faixa descendo pelas costas. Os dois estavam unidos, trocando beijos e comida. Como muitos de nós, presos em casa, eles ganharam peso aos cuidados do Dra. Bonson, jantando couve e morangos.

“Eles são minha alegria diária, pulam, vêm no meu colo. É realmente ótimo sentir que alguém quer estar com você. Uma coisa é o Skype com as pessoas, mas você não pode abraçá-las, e eu posso abraçar um coelho.” Claro, animais de estimação não são isentos de complicações. E em um momento que é tão tedioso quanto difícil, um novo animal apresenta desafios. É outra boca para alimentar em um momento em que milhões de famílias enfrentam a perspectiva de dificuldades financeiras, se é que já não estão passando por isso.

Além disso, existe outra questão: estamos todos em casa tentando evitar contrair um vírus grave que pode nos deixar incapazes de cuidar de nossos compromissos, pelo menos temporariamente. Traga para casa um novo animal de estimação e você pode ter que recrutar um amigo ou parente caso fique doente. (Felizmente, não há evidências de que animais de estimação possam espalhar o coronavírus para seus companheiros humanos, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.)

Também pode ser difícil atender a todas as necessidades do seu pet. Embora o cuidado com animais seja considerado um serviço essencial em Nova York e em outros Estados, muitos veterinários e outros fornecedores de suprimentos reduziram os serviços ou fecharam temporariamente. Taylor, de Glendale, diz que nem começou a pensar em como obter a próxima rodada de imunizações de seu pug, que ele precisará em breve. “Eu nem sei como isso funciona no momento”, diz ela.

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Os filhotes enfrentam outro desafio quando começam suas vidas em confinamento. Eles são criaturas sociais que precisam de tempo com outros filhotes e pessoas. “Existem alguns prós e contras sérios na criação de um filhote agora”, explica Annie Grossman, proprietária da Escola para Cães no East Village, que está realizando seminários online sobre como treinar e socializar um filhote em confinamento. “Você corre o risco de ter um bichinho que passou seu período crítico de socialização sem experimentar todas as coisas que ele precisa entender sobre a aparência do mundo.”

Como você explica a um filhote de cachorro que geralmente está ausente trabalhando cinco dias por semana? Ou que parques são lugares onde os filhotes podem se encontrar e correr? Grossman sugeriu encontrar sons incomuns online – crianças brincando, skate, buzinas – e tocar os clipes para o seu animal de estimação. Vista roupas incomuns com chapéus, casacos e lenços. Leve o seu cão para passear e para os parques, se estiverem abertos. Abra bem as janelas às 19h, hora dos aplausos para os profissionais de saúde.

O que animais de estimação em quarentena carecem na vida social, compensam na atenção interminável de seus donos. Mas um dia, sairemos de nossas casas e, presumivelmente, voltaremos ao trabalho e a algum tipo de vida que se assemelha às anteriores. Quando finalmente tivermos um lugar para ir novamente, nossos animais de estimação terão que lidar com uma vida que não inclui estarmos ao redor deles o tempo todo.

Para prepará-los para sua eventual partida, Grossman sugeriu alimentá-los e sair imediatamente da sala – para tomar um banho ou até se esconder no quarto e verificar seu e-mail. “Seu cão está fazendo uma boa associação com todas as coisas que têm a ver com você”, explica ela. “Você precisa pensar em quais associações seu cão está fazendo com você saindo.”

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Harbor, do Animal Medical Center, não está muito preocupada com a depressão pós-adoção, comparando a chegada de um companheiro de quatro patas ao nascimento de um bebê. “Nunca é um bom momento para ter um bebê, mas quando você tem o bebê, ele se encaixa de alguma forma.” Além disso, “não sabemos como será o nosso mundo daqui a seis meses – nossas vidas serão tão diferentes”. Para alguns de nós, essas vidas diferentes incluirão um amigo peludo.