No início da pandemia, para se consolar, Cathy Linh Che apelou para as receitas vietnamitas da mãe. Ela conseguia encontrar sem dificuldade todos os ingredientes de que precisava na Chinatown de Manhattan, em Nova York. Mas chegar até lá de metrô, saindo de seu apartamento em Jackson Heights, levava quase uma hora.
Por isso, quando um moderno apartamento de dois quartos, com paredes de tijolinhos e piso de pedra se tornou disponível para aluguel por cerca de US$ 1.700 por mês, na vizinhança do bairro de Two Bridges, ela aproveitou a oportunidade. Cathy, gestora artística, sabia que aquilo era bom demais para ser verdade, mas, segundo ela, o corretor garantiu que um possível aumento no futuro do valor seria de cerca de 8%. Ela deixou para trás o apartamento com aluguel estável.
Então, em maio, o que ela mais temia tornou-se realidade: o proprietário entregou um contrato de renovação com um aumento de 65% no valor do aluguel. “Fiquei com raiva. Eu me senti enganada”, disse ela.
O que há muito se lamenta – que as pessoas beneficiadas com o chamado “desconto covid” hoje estão pagando o preço por esses acordos – agora está sendo comprovado pelos números.
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Cerca de 44% das unidades disponíveis em Manhattan atualmente são de locatários que não puderam continuar nos apartamentos alugados em 2020 e 2021, pois os proprietários de Nova York pedem quantias enormes por eles, de acordo com um novo relatório da plataforma para busca de imóveis StreetEasy.
No segundo trimestre deste ano, quase 14 mil apartamentos de Manhattan ficaram disponíveis porque os antigos inquilinos foram mandados embora depois de receberem renovações de contrato com aumentos significativos. Em toda a cidade, os números não são tão diferentes, com pelo menos um terço das unidades disponíveis – mais de 22 mil apartamentos – desocupadas por causa do aumento do aluguel, de acordo com o relatório.
O desalojamento de tantos nova-iorquinos ao mesmo tempo está provocando um efeito dominó nos bairros de Nova York, levando o mercado de aluguel para fora dos limites do poder aquisitivo.
“Os proprietários estão basicamente tentando recuperar a renda perdida durante a pandemia e estão pedindo aumentos de alugueis de forma intensa nas unidades que foram oferecidas durante esse período”, disse o economista da StreetEasy Kenny Lee.
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Analisando o comportamento dos aluguéis, a StreetEasy descobriu que os valores para os apartamentos listados em 2020 e 2021 aumentaram quatro vezes em relação aos oferecidos em 2018 e 2019. Um inquilino que assinou um contrato de aluguel nos primeiros dois anos da pandemia teria visto o aluguel subir em mais de 20%, enquanto alguém que assinou um contrato inicial antes provavelmente enfrentou um aumento de 4,5%.
As opções não são animadoras para aqueles que não puderam continuar nos apartamentos alugados durante a pandemia, pois eles entram no mercado de aluguel mais competitivo em uma década. A média do aluguel em Manhattan subiu para US$ 4.100 no segundo trimestre, uma alta recorde para a StreetEasy. No Queens, a média dos alugueis pedidos pelos proprietários alcançou um recorde de US$ 2.600 por mês, um salto de 13% em relação ao trimestre anterior, e no Brooklyn, chegou a US$ 3.200, um aumento de 12% em comparação com o primeiro trimestre.
Nova York há muito tempo é uma cidade cara e com aluguéis proibitivos. Mas os defensores da habitação dizem que este mercado é diferente de qualquer outro na memória recente.
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https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/preco-aluguel-dispara-ny-poscovid/
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