Morar Com The New York Times

Irmãos à Obra dão dicas de reforma

Crédito: Trisha Krauss
Ronda Kaysen, do The New York Times
15-07-2019 - Tempo de leitura: 6 minutos

É só assistir um pedaço do programa “Irmãos à Obra” que você passa a acreditar que qualquer imóvel com jeito de patinho feio pode virar a casa dos sonhos em menos de uma hora com uma marreta e um piso de madeira. Se você já morou em um lugar que precisou de um conserto, provavelmente sabe que mesmo a obra mais simples custa muito mais do que se imagina, não acaba nunca e quase sempre é repleta de complicações. Jonathan e Drew Scott, os gêmeos idênticos canadenses de 40 anos, construíram um pequeno império tentando provar para o resto de nós que, se você derrubar a parede certa, a felicidade está à sua espera.

Nos anos que se seguiram à compra do programa deles pela emissora HGTV, em 2011 – “Irmãos à Obra” estreou em 2010 numa TV local canadense –, os adoráveis irmãos escreveram livros, inclusive um infantil e outro de memórias, estrelaram e algumas vezes até produziram programas, lançaram um site de decoração e uma linha de móveis para residências, além de fecharem uma parceria com o banco Chase e a plataforma Pinterest, a fim de ajudar donos de casa a criar ambientes inspirados. Atualmente eles também trabalham em uma série de comédia para a TV. Eu conversei por telefone com os irmãos Scott para descobrir que dicas eles poderiam oferecer àqueles de nós que têm desejos para nossos lares, mas não a boa sorte de contar com uma dupla da TV para dar instruções.

Para entender melhor a filosofia dos irmãos Scott, considere o programa carro-chefe dos dois, em que cada episódio segue um roteiro padrão. Os irmãos levam um casal alegre, mas infeliz, para ver a casa dos sonhos, um lugar lindo que atende a todos os requisitos, só para acabar com as esperanças deles dizendo o óbvio: eles não têm como pagar por aquilo. E assim começa a busca por uma casa menos atraente, geralmente uma com carpete e painéis de madeira. Com gráficos sofisticados, os irmãos mostram ao casal o potencial do imóvel, enquanto empregados põem as paredes abaixo e instalam uma cozinha nova.

Relação custo X benefício

A primeira dose de sabedoria deles para quem deseja reformar é: nem toda casa velha dá um bom imóvel reformado. “Encontre um imóvel em que os ossos funcionem e você só vai mudar as coisas do interior”, diz Jonathan Scott, empreiteiro e irmão geralmente visto na série usando um cinto de ferramentas e arrancando uma privada imunda sem desarrumar o cabelo preto cuidadosamente penteado. Se a casa for simplesmente muito pequena, armários novos e uma planta aberta não vão trazer o quarto perdido que você procura. Em vez disso, talvez você precise ampliar a área útil, o que traz um gasto grande. A média nacional dos EUA para uma ampliação é de cerca de US$ 43,3 mil. No caso de uma expansão de luxo, o valor pode chegar até US$ 120 mil, segundo a plataforma HomeAdvisor.

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Mesmo projetos cosméticos podem sair caros. O HomeAdvisor estima que o custo médio de uma cozinha nova é de aproximadamente US$ 23 mil, podendo chegar a US$ 55 mil, se for uma estrutura de alto padrão. Não é por acaso que os americanos preferiram tocar sozinhos 43 milhões de projetos de reforma de casas de 2015 a 2017, segundo dados do censo. Contudo, ao contrário de outras estrelas de programas de reforma doméstica, os irmãos Scott não são fãs de projetos independentes, apesar de terem começado na profissão comprando e reformando imóveis enquanto ainda estavam na faculdade.

Alguns projetos, como instalar uma bancada, são viáveis após assistir um número suficiente de vídeos no YouTube, dizem eles. Porém, os planos podem dar errado depressa. “Se você não tem certeza de que vai até o fim, nem comece”, avisa Jonathan. É mais provável que um engenheiro faça um trabalho melhor e mais rápido. “A maioria das pessoas não valoriza o próprio tempo”, diz Drew, corretor de imóveis e o irmão geralmente retratado em cena bem vestido e orientando os compradores sobre o processo de fazer uma proposta por um imóvel. Um projeto independente que der errado pode fazer os proprietários se arrependerem da casa “porque não está ficando como eles queriam”, diz.

A recomendação dele é começar com algo pequeno, um projeto que leve um dia para ser concluído e que não atrapalhe muito. “Talvez haja uma mesa ou cadeira velha que você pode reformar”, diz. Ok, mas dificilmente isso vai proporcionar a mesma sensação de realização, a menos que para você a mesa de centro fúcsia seja algo digno de mencionar para as visitas. “Se seus amigos forem à sua casa e disserem: ‘Adorei a mesa de centro, nunca vi antes, onde vocês compraram?’”, diz Jonathan, você pode responder algo como: “Ah, então, na verdade não comprei!” Dá para começar daí. Para projetos maiores, os irmãos Scott recomendam fortemente contratar profissionais.

Tempo e estilo certos

Definitivamente, os americanos investem bastante em suas casas, gastando US$ 300 bilhões por ano com reformas e consertos, segundo o Centro Compartilhado de Estudos Habitacionais da Universidade de Harvard. Como eles estão pagando todo esse trabalho? 60% das pessoas que responderam a uma pesquisa do banco Chase disseram que planejam fazer empréstimos para financiar as obras. “Refinanciamentos com pagamento à vista foram um produto bastante popular em 2018”, diz Amy Bonitatibus, diretora-executiva-chefe de marketing e comunicações da área de empréstimos habitacionais do Chase.

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Em sua parceria com o Chase, os irmãos Scott aparecem nas propagandas e no site do banco, anunciando um mural do Pinterest que fala de finanças e de decoração. Eles recomendam não esperar para cuidar de obras e financiá-las com empréstimos ou linhas de crédito. “Algumas pessoas juntam dinheiro por três, cinco anos para fazer a reforma da cozinha”, diz Jonathan. “Mas por que não começar hoje e aproveitar aquela cozinha?” Proprietários precisam escolher as obras com cuidado. E, na visão dos irmãos Scott, em grande parte dos casos isso quer dizer arrancar algumas paredes.

“Não suporto ir a um imóvel que o anúncio diz que está reformado, mas só o que fizeram foi deixar a cozinha pelada e colocar armários novos na mesma configuração ruim, de modo que tudo que você tem é uma cozinha apertada e com um projeto antiquado”, diz Jonathan. “Vale gastar dinheiro para abrir as coisas de maneira profissional para ter uma área nova.”

Uma vez derrubadas essas paredes, alguém tem de escolher os móveis. Drew, que mudou recentemente para Los Angeles com sua mulher, Linda Phan, descreve seu estilo como “moderno rústico”, enquanto Jonathan, que vive em Las Vegas, se vê mais como “elegantemente eclético.” Em outras palavras, “não gosto muito das coisas todas combinando”, diz ele. E quanto ao resto de nós? Os irmãos Scott dizem que nós deveríamos comprar só o que gostamos.

Ainda que eles insistam para que um profissional coloque o piso, eles não têm a mesma reverência a respeito dos especialistas em decoração. Em geral é Jonathan quem acompanha os ansiosos proprietários na ida à loja de móveis, dando conselhos sobre sofás e almofadas. “Todos os termos extravagantes de decoração que você ouve falar por aí não querem dizer nada”, afirma. “Decorar é muito mais fácil do que as pessoas imaginam. Não tem segredo.” / TRADUÇÃO DE FABRÍCIO CALADO

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