Em decoração, dinheiro não é tudo. Para criar um quarto com estilo, você só precisa mesmo de imaginação e paciência para achar a peça certa
Quando você está projetando uma casa, é fácil se empolgar sonhando com sofás, tapetes e quadros caros. Mas os objetos de valor não são tão importantes quanto parecem e torrar dinheiro para comprá-los não garante que você terá uma casa que ame. Na maioria das vezes, são os pequenos toques que tornam um espaço realmente convidativo e memorável.
“O estilo está na mistura das coisas”, diz Cliff Fong, fundador da empresa de design de interiores Matt Blacke. “Ninguém precisa de imaginação ou gosto para ir a uma loja de design italiano comprar tudo. Para isso, é só ter muito dinheiro.”
Se você estiver disposto a esperar – e procurar peças especiais a preços acessíveis que você mesmo monte -, diz Fong, “dá para decorar com qualquer tamanho de bolso”. Para ajudar, pedimos a Fong e outros designers de interiores ideias para causar grande impacto com um orçamento baixo.
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“Todo mundo sabe que a melhor pechincha do mundo é um galão de tinta”, diz Jeffrey Bilhuber, designer de interiores cujos clientes endinheirados incluem Anna Wintour e Iman, mas cujo novo livro lançado pela Rizzoli, “Everyday Decorating” (Decoração Cotidiana, em tradução livre do inglês), traz dicas de decoração certeiras para todos os públicos.
Uma camada fresca de tinta em paredes manchadas pelo tempo renova imediatamente um cômodo e uma mudança de cor pode transformá-lo. “Cor tem uma conotação de confiança”, diz Bilhuber, e pintar as paredes com uma cor forte “significa que você está confiante no lugar em que vive”.
Tinta serve para cobrir mais que o drywall. Will Cooper, parceiro e diretor criativo da empresa de Nova York ASH NYC, afirma que uma solução rápida para um assoalho de madeira apagado é pintá-lo. Em seu apartamento no East Village, diz ele, “o assoalho era de lâminas de carvalho baratas que eu lixei e pintei da mesma cor que as paredes e o teto”, usando tinta de piso à base de óleo.
“Fez uma diferença enorme e mudou toda a atmosfera” ao tornar o espaço maior e mais claro, segundo ele. Nos quartos menores, ele recomenda pintar paredes de tijolos depois de aplicar uma camada fina de gesso para diminuir irregularidades na superfície. Mesmo que algumas pessoas vejam valor em tijolos aparentes, para ele, “é algo que pode sugar a energia e a luz de um cômodo”. Pintar deixa as coisas mais vivas, além de dar uma textura atraente.
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Fong sugere usar uma cor de tinta que contraste para enfatizar a moldagem atraente ou mesmo para criar um efeito de lambri. “Pintar uma linha de cor de quase um metro de altura e que vá até o chão é um jeito bom e interessante de acrescentar um vetor visual”, diz. “Se quiser algo mais extravagante, coloque um friso na parte de cima.”
Mudar um cômodo trocando as almofadas é um conceito tão batido, diz Bilhuber, que “se alguém disser ‘troque suas almofadas’ mais uma vez, vou mudar de emprego”. Porém, ele admite, não quer dizer que a estratégia não funcione.
Colocar almofadas e uma manta de cores claras em um sofá pode dar o recado em uma sala, diz Bilhuber, e é possível fazer a mesma coisa em um quarto com gasto mínimo. “Dá para mudar a roupa de cama na hora só trocando a fronha do travesseiro. Podem ser de quartzito amarelo, granada ou azul safira – e tcharã!”, afirma ele. “Deixe todo o resto como está.”
Outro jeito fácil e barato de colocar cor em um espaço, sugere Bilhuber, é com abajures novos. “Compre amarelo em vez de branco”, diz ele – ou berinjela, cor escolhida por Bilhuber para sua casa em Locust Valley, Nova York. Cooper dá um conselho parecido. “Dá para conseguir abajures prontos para levar para casa em tudo que é forma, tamanho e cor, o que muda a aparência da lâmpada muito facilmente”, diz.
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Para um cliente de TriBeCa, Cooper instalou abajures pretos com lâmpadas vintage Pierre Cardin da década de 70, o que deu a elas “um novo ponto de vista e um toque de charme”. Outra opção é pintar listras em abajures brancos, como Cooper faz às vezes, para dar a eles uma característica de destaque visual.
“Troque suas lâmpadas – é rápido e econômico”, diz Bilhuber. “Eu volto para casa a pé à noite e vejo os piores erros quando olho para os apartamentos da rua.” Para ser mais específico, diz Bilhuber, ele vê muita luz clara em tons branco-azulados. “Você tem que usar luz quente sempre, seja incadescente ou de LED”, aconselha ele, o que geralmente quer dizer instalar lâmpadas com temperatura de 3 mil kelvins ou menos.
Depois, diz ele, “diminua a voltagem. Você não precisa de iluminação de cortar diamante no seu apartamento. Níveis menores de luz melhoram o clima.” Isso é possível com lâmpadas de voltagens menores, lâmpadas de três cabeças ou interruptores reguláveis.
“Se quiser ir mais além, coloque iluminação nos quadros”, continua Bilhuber, sugerindo a ideia para quartos e artesanatos de mesa. “Assim você controla como navega visualmente pelo apartamento, criando pontos de luz em determinados objetos e destacando a beleza deles.”
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Nem todo móvel e acessório precisa roubar a cena. Um único objeto que se diferencie pode criar um ponto focal e reforçar a aparência de um espaço maior. “Um objeto especial pode levantar o cômodo inteiro”, diz Vanessa Alexander, fundadora da Alexander Design, em Santa Mônica, Califórnia. “Nós sempre tentamos colocar algo vintage ou único em cada cômodo. É uma coisa que não dá para imitar tão facilmente e que tem uma história.”
Em uma casa de Malibu, na Califórnia, Alexander colocou uma cadeira de Osvaldo Borsani da década de 50 em um canto da sala. É tanto um elemento escultural, nota ela, quanto um lugar para sentar. Para sua casa em Malibu, ela achou um candeeiro suspenso de bronze perfurado em um brechó e reformou-o como uma peça de decoração de uma marquise. “Ele cria um momento textural”, diz ela. “E, à noite, ele transmite um padrão” quando iluminado.
Essas peças não precisam ser caras, diz Fong, conhecido por criar interiores repletos de tesouros retrô, inclusive uma casa que ele projetou com Ellen DeGeneres e Portia de Rossi em que um dos cômodos tinha uma argola de madeira surrada e outro, uma coleção de espelhos vintage. “Vários desses espelhos vieram de feiras de rua e brechós”, diz Fong. “Na feira você acha uma travessa incrível, objetos interessantes para a mesa de centro ou arte bonita, e isso pode fazer bastante coisa em um ambiente.”
Em seu novo livro, Bilhuber escreve que “a arte pode animar um cômodo mesmo que não seja cara”. Elaborando mais a ideia, ele explica que você não precisa gastar milhares de dólares para ter arte que funcione em um interior.
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“Alguns dos projetos mais chiques em que eu já trabalhei tinham obras de arte ao lado de pôsteres enquadrados”, afirma. “Não tem desculpa, é só ir ao MoMa e comprar um pôster de uma obra de arte por US$ 100. É humano, é real e é humilde.” Ou então compre peças de artistas menos conhecidos (ou desconhecidos) simplesmente porque elas agradam você.
Melhor ainda, diz Bilhuber, trabalhe com o que você já tem. “Você sempre vai ter aquelas cinco fotos que leva para onde for desde seu primeiro apartamento”, diz ele. “Tire elas e comece do zero. Coloque todas no chão e olhe-as juntas. Só de pendurá-las de novo de um jeito mais uniforme ou como uma colagem já pode fazer diferença.”
Ainda que as coisas que você vê e toca recebam maior atenção na hora de planejar uma casa, o cheiro também tem um papel importante. “Encontre um cheiro no cômodo que você ame”, diz Bilhuber, que prefere sprays de fragrância para casa em lugar de velas aromatizadas. “Pode haver diferença entre o seu apartamento e o das outras pessoas. Pode haver uma diferença entre o que está acontecendo na entrada e na sala.”
O aroma favorito dele é o de âmbar e fumaça da coleção farmacêutica da Paddywax. “Eu uso toda noite antes de ir para a cama”, afirma. “Duas ou três borrifadas e você é transportado para um lugar completamente diferente de onde estava dois segundos atrás.” / TRADUÇÃO DE FABRÍCIO CALADO
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