A pandemia de Covid-19 impulsionou um movimento de abandono dos escritórios em todo o mundo. A taxa de disponibilidade de espaços em edifícios corporativos em São Paulo chegou a saltar 50% de 2020 para 2021 e previsões pessimistas indicavam a derrocada irremediável de regiões como a Avenida Faria Lima e a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. No entanto, a recente recuperação do mercado de escritórios indica que as estimativas não poderiam estar mais erradas.
Em março de 2020, o Google se orgulhava de ter sido uma das primeiras grandes empresas a estimular o trabalho remoto. Hoje, os executivos da Big Tech lideram um comboio na direção contrária. São companhias que, para fazer com que os funcionários desistam do estilo de vida adotado na quarentena, apresentam incentivos e ameaças com a justificativa de que os escritórios representam um vínculo necessário para inovação e colaboração.
Justiça seja feita, não é apenas o Google e demais empresas deste porte que desejam a retomada do modelo clássico de trabalho. Um levantamento da plataforma de recursos humanos Infojobs, em janeiro deste ano, mostra que o trabalho totalmente presencial representava 94,8% das vagas abertas. O trabalho híbrido equivalia a 2,48% e as vagas totalmente remotas eram de apenas 2,7%.
Seja por cultura, segurança de dados ou por defender a integração entre colaboradores, os escritórios voltaram a fazer parte da vida de grande parte dos trabalhadores. E isso vem se traduzindo no mercado imobiliário.
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De acordo com um estudo da CBRE, empresa de consultoria na locação e gestão de imóveis, aproximadamente 80% dos prédios comerciais em São Paulo registraram retorno superior a 70%, e 45% com retomada acima de 90%. A absorção bruta do primeiro trimestre de 2023 é de 189 mil m², 11% acima da média trimestral do último ano.
“A Covid-19 criou a necessidade de todos ficarem em casa. E as pessoas produziram bem, mas o arrefecimento da pandemia permitiu a abertura de bares, academias e outros estabelecimentos, o que fez com a produtividade caísse e muitos acabaram demitidos. As empresas viram que as pessoas precisavam voltar aos escritórios”, analisa Felipe Robert Giuliano, diretor de Locação, Pesquisa e Health da CBRE.
O retorno aos escritórios pode ser notado empiricamente no fluxo de pedestres nas ruas, mas, também, no encarecimento dos imóveis comerciais. “A demanda aumentou e a oferta vem diminuindo, o que impacta os preços. Os valores já retomaram a períodos pré-pandêmicos”, afirma Giuliano. “E as empresas menores são as que estão buscando mais imóveis neste momento”, acrescenta.
Ele destaca que a área de 450 m² onde se localiza a avenida Faria Lima, famosa por abrigar os escritórios de algumas das maiores empresas do mundo, não é o maior símbolo dessa alta. “Historicamente, muitos negócios sonham em estar na região por causa do seu charme, porém é na Marginal Pinheiros que notamos o impacto do retorno aos escritórios com mais força.”
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Segundo o estudo da CBRE, a Marginal Pinheiros representou 42% de toda a absorção bruta do mercado de escritórios do primeiro trimestre na cidade de SP. “É um preço mais convidativo, tem mais oferta e prédios novos com muitas opções de serviços”, avalia o diretor de Locação. A perspectiva defendida por Giuliano, entretanto, é que, mesmo com a evolução do setor, os escritórios tradicionais estão com os dias contados.
“É necessário criar espaços mais convidativos aos funcionários. O presente do mercado de trabalho é a flexibilidade, não podemos manter os escritórios como sempre foram”, alerta. “Estações de trabalho fixas devem ser substituídas por áreas de convivência agradáveis, com salas abertas e interativas, mobiliário ergonômico e adequado às questões sanitárias.”