Investir em Imóveis

Mercado imobiliário de alto padrão tem saldo positivo em 2021

As duas cidades seguem em curva de recuperação, mas ainda buscam se igualar ou superar melhor período do mercado imobiliário de 2010 a 2013/Crédito: Getty Images
Rafael Moura
04-11-2021 - Tempo de leitura: 6 minutos

O setor imobiliário permaneceu resistente à pandemia e às incertezas geradas pela política econômica, com o segmento de alto padrão mostrando crescimento significativo e taxas de juros baixos somadas à demanda de compradores que estavam em busca de mais conforto e qualidade de vida durante o isolamento social.

A necessidade movimentou os dois principais eixos imobiliários de luxo do País: São Paulo e Rio de Janeiro. Em relação à demanda, pesquisa realizada pelo DataZap+ indicou que houve aumento na participação dos apartamentos de luxo em São Paulo de 3,21%, considerando o período de junho de 2020 a junho 2021. Já no Rio de Janeiro, os apartamentos de luxo, acima de 2 milhões, tiveram alta de 10% em 2021, o que representa 3% mais que o mesmo período de 2020.

Outro ponto que chama atenção é o acumulado de vendas de imóveis com valores acima de R$1,5 milhão, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Até o 3° trimestre (julho) de 2021, foi 23% maior que em 2020, com 13.906 unidades. Já na soma de lançamentos na cidade de São Paulo, o salto é 232% maior referente a 2020, com 23.989 lançamentos.

Dados do Secovi-SP mostram que a comercialização de residências com valor acima dos R$ 1.5 milhão cresceram em 2021. De janeiro a setembro, somam 1849 unidades vendidas em São Paulo, 43% a mais que em 2020. Os lançamentos foram de 29% mais em relação a 2019. 

No Summit imobiliário 2021, promovido pelo Estadão e parceiros, números do Secovi-SP apontam que em 2021 o mercado paulista pode superar a série histórica em relação a lançamentos e vendas. 

Já no Rio de Janeiro houve crescimento no volume de lançamentos no segmento de empreendimentos mais sofisticados, na ordem de 34% a 35% referente ao mesmo período de 2020. No volume de vendas comparando com 2020, o aumento foi ainda maior, de 72%, segundo dados da Ademi e do Sinduscon no Rio.

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No Rio de Janeiro, o Leblon lidera o ranking dos bairros mais caros por metro quadrado, com R$21.686/m², seguido de Ipanema R$18.892/m²/Crédito: Getty Images

Para Cláudio Hermolin, presidente das entidades, o segmento teve um comportamento mais “resiliente” durante a pandemia, já que muitas pessoas repensam o “seu valor de viver”. “Com a busca por mais qualidade de vida, o aumento foi proporcionalmente maior por coberturas, casas e garden, imóveis tradicionalmente mais caros”, diz. Segundo Hermolin, o primeiro trimestre de 2021 é o melhor dos últimos 6 anos, que mostra forte curva de recuperação, mas ainda não alcança patamares do melhor período de 2010 a 2013, onde o mercado teve seu melhor momento.

Cláudio Hermolin – Presidente da Ademi e Sinduscon no Rio de Janeiro/Crédito: Divulgação

Para o presidente da Abrainc, Luiz França, os dados reforçam o bom desempenho do setor imobiliário carioca, que está em um processo de retomada e com boas perspectivas para o segundo semestre. “Os segmentos de Alto Padrão, Luxo e Super Luxo também chamam a atenção pelos resultados, já que demonstraram ser produtos atrativos, já que os interessados veem mais vantagens em relação às aplicações financeiras tradicionais”, destaca. Para ele, São Paulo e Rio de Janeiro estão entre os principais mercados, seguidos por Minas Gerais. “São Paulo tem um dos maiores segmentos de imóveis de médio e alto padrão do País, com diversas opções de produtos e comodidades disponíveis, sempre com características inovadoras e atraentes para investidores e moradores.”

Valorização do metro quadrado
Seguindo a tendência de aumento no período, o metro quadrado nos bairros mais valorizados das capitais apresenta alta, pela procura somada à demanda. Segundo o último levantamento do Índice FipeZap, em São Paulo e no Rio de Janeiro, altas acumuladas nos últimos 12 meses (até setembro) foram de 4% e 3%, respectivamente. Na análise geral, São Paulo apresenta o preço médio mais elevado no último mês (R$9.622/m²), seguido por Rio de Janeiro (R$ 9.604/m²), segundo último Índice FipeZap.

No Rio de Janeiro, o Leblon lidera o ranking dos bairros mais caros por metro quadrado, com R$21.686/m², seguido de Ipanema R$18.892/m², Lagoa R$16.4890/m² e Botafogo R$12.687/m². Os dados são da Secovi-RJ.

Segundo Alex Frachetta, CEO da startup Apto, os diferenciais mais buscados pelos cariocas refletem bem o perfil dos empreendimentos da Barra da Tijuca, colocando a região como a preferida da cidade. “Os clientes buscam em sua maioria: alto padrão de acabamento, ampla área de lazer, varanda gourmet com opção de churrasqueira, aquecimento de água por meio de placas solares e com fácil acesso ao trem ou metrô”, diz.

“Foi necessário recuar os lançamentos mais econômicos. Porém, o mercado imobiliário do Rio de Janeiro não parou, as incorporadoras se concentraram em empreendimentos de médio e alto padrão e alguns no centro da cidade, focados em investidores, e isso manteve o setor estável”, explica Fracheta.

O vetor que puxava o mercado imobiliário do Rio de Janeiro foi durante um longo tempo a  zona oeste, destacando bairros como Barra, Recreio e Jacarepaguá. Atualmente, o vetor se inverteu e caminhou para a zona sul, concentrando nos bairros de Ipanema e Leblon o maior volume de lançamentos e vendas da cidade.

Em São Paulo, os imóveis mais caros e disputados seguem com Itaim Bibi
R$15.110/m², Pinheiros R$14.110/m², Jardins R$13.387/m² e Moema R$13.009/m². Felipe Kauffmann, gestor da construtora e imobiliária Kauffmann, informa que os valores de novos empreendimentos nessa região são superiores a R$ 30 mil/m². “Especialmente nos bairros do Itaim Bibi e Vila Nova Conceição, que possuem maior concentração de lançamentos, atualmente, o m² pode chegar a R$ 40 mil. As coberturas chegam a R$ 50/m².

Kauffmann lembra que esses bairros têm uma demanda muito consistente, por estarem bem localizados, próximos de áreas comerciais, por exemplo. O público de alto poder aquisitivo geralmente trabalha em regiões como a Faria Lima e buscam mais mobilidade e fácil acesso aos serviços da cidade. 

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“Outro ponto, é o bem estar, lazer e qualidade de vida, já que muitos desses bairros estão próximos de parques como o Ibirapuera e Parque do Povo. O entorno oferece opções de comércio e gastronomia compatíveis com o público de alto padrão”, explica. Felipe reforça que, durante a pandemia, houve alta na procura de apartamentos com opções de lazer dentro de casa e espaços mais amplos.

O gestor indica que há uma manutenção dos preços em alta, baseado no leilão de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepac) da prefeitura de São Paulo. Em 14 de outubro, o valor do CEPAC foi de R$ 17.600/m² na região da Faria Lima, onde foi leiloado R$213 milhões em Cepacs pela prefeitura. “Não vemos os preços caindo, as empresas continuam comprando e apostando nessa elevação dos preços, principalmente na região”, comenta.

Os imóveis mais caros e disputados seguem no Itaim Bibi, com custo de R$15.110/m², ² Crédito: Katia Castro – Divulgação

Em outubro, 27, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou para 7,75% a taxa básica de juros (Selic). O setor imobiliário acaba sofrendo, já que os juros podem representar o congelamento dos financiamentos da casa própria. Porém, mesmo com a 6ª alta consecutiva em 2021, o momento é propício para quem busca comprar ou investir em imóveis.

Para Kauffmann a alta dos juros não diminui o poder de compra do segmento de alto padrão. “Por ser um público muito dolarizado, acabam se beneficiando da elevação dos preços. Por isso, não impacta a procura desses clientes em busca de novos negócios para investimentos em empreendimentos mais sofisticados”, afirma.