No início de 2023, o governo de Portugal anunciou que vai paralisar o programa de vistos gold, que concede cidadania e residência a investidores que aportam no país. A estratégia foi adotada como forma de tentar frear a especulação imobiliária. E os brasileiros são consideravelmente atingidos pela medida. Para se ter ideia, a nação é a segunda nacionalidade com mais solicitações aceitas, atrás apenas dos chineses.
O investimento de brasileiros no mercado imobiliário de Portugal é sustentado por argumentos como a alta na taxa de juros e a falta de estabilidade do cenário econômico do Brasil. Atualmente são mais de 250 mil brasileiros registrados em Portugal, de acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), sendo a principal comunidade estrangeira no país europeu.
Apesar dos números, a participação brasileira no mercado imobiliário português ainda é pouco expressiva. Pelo menos é isso que afirma Paulo Caiado, presidente da Associação Dos Profissionais E Empresas De Mediação Imobiliária De Portugal (APEMIP). Em conversa exclusiva com o Estadão Imóveis, ele salienta que existem mitos distantes da realidade que foram criados sobre o tema. “Os cidadãos brasileiros ricos, que constituem o grupo de pessoas que têm comprado imóveis de luxo aqui, não simbolizam uma porcentagem relevante do ponto de vista geral”, explica.
Ele afirma que, apesar da imigração de brasileiros para o país ser relevante, a maior parte não possui condições de comprar imóveis. “São pessoas em busca de uma vida nova, com mais oportunidades. Quando observamos os cidadãos com grande poder aquisitivo percebemos que é um segmento muito pequeno, quase ínfimo”, justifica.
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Caiado conta que a oferta imobiliária nos segmentos de luxo passa longe de ser pautada pelas demandas brasileiras. Um dos mitos derrubados por ele é o de que existe uma eventual tendência de se construir mais imóveis com “quarto de empregada” para atender uma necessidade de brasileiros. “As tendências aqui se conectam a temas como sustentabilidade, energia solar e carregamento elétrico. Por isso, ao invés do quarto de empregada, os incorporadores priorizam a criação de atividades de bem-estar e práticas relacionadas ao ESG.”
Ainda que, na visão de Caiado, os brasileiros não simbolizem um impacto tão significativo no mercado imobiliário português, ele destaca que essa participação ainda é relevante. “Deve ser muito raro encontrar uma imobiliária em Portugal que não tenha cidadãos nascidos no Brasil ou que não tenha um ou outro brasileiro que trabalhe como corretor imobiliário.”
Para ele, a facilidade da língua e para obter um visto, além da necessidade que Portugal tem de contribuintes para melhorar os níveis de mão de obra fortalecem esse cenário. “O número mais expressivo é de brasileiros que escolhem Portugal para trabalhar e não para morar”, compara.
Caiado defende essa imigração. “Hoje em dia é difícil passear por alguma vila portuguesa e não encontrar brasileiros. Temos desafios que passam por edificar mais, construir imóveis e contrapor a atual escassez de oferta que existe no nosso mercado. É um período importante de desenvolvimento, e só é possível superá-lo com a chegada de novos contribuintes”.
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