Decoração, reforma e construção

Quais são os principais desafios da cadeia de construção no Brasil?

Dos R$ 2,7 trilhões que a cadeia de construção prevê movimentar em projetos no Brasil até 2030, R$ 312,8 bilhões devem vir diretamente da incorporação imobiliária/ Crédito: Getty Images
Breno Damascena
23-02-2023 - Tempo de leitura: 4 minutos

A imprevisibilidade é o principal desafio enfrentado pelas empresas dos setores de construção e incorporação e de serviços relacionados no Brasil. A “escassez ou aumento do custo dos recursos financeiros” é o maior obstáculo para companhias especializadas no comércio de materiais de construção, e a “escassez de materiais” é o que causa mais dor de cabeça aos fornecedores de insumos para construção.

É isso que mostra o estudo Produtividade e Oportunidades para a Cadeia da Construção Civil, elaborado pela Deloitte e divulgado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC). O levantamento também aponta a imprevisibilidade de câmbio como os maiores desafios para a Indústria de Base.

Principais desafios em relação a projetos por setor (em %):

Área de AtuaçãoConstrução e incorporaçãoServiços relacionados a construção, tecnologia e consultoriaComércio de materiais de construçãoFornecedores de insumos para construçãoIndústria de base
Atraso de fornecedores6856466250
Escassez de mão de obra qualificada6856556045
Escassez de materiais7430736250
Escassez ou aumento do custo dos recursos financeiros3237824050
Falta de gestão50905
Impacto das variações climáticas11001630
Imprevisibilidade de câmbio2626273660
Imprevisibilidade de custos7970734660
Imprevisibilidade do potencial de receita3233462830
Problemas jurídicos ou regulatórios4248271230
Fonte: Pesquisa primária para o estudo “Produtividade e oportunidades para a cadeia da construção” (Deloitte, 2022)

Eficiência dos trabalhadores impacta a obra

O estudo da Deloitte também questionou as companhias sobre os desafios que rodeiam um projeto no momento da construção dele, de fato. Para quatro dos cinco setores pesquisados (Construção/incorporação, Serviços relacionados, Comércio e Indústria de materiais de construção), a resposta é “a eficiência da mão de obra para execução e atividades demandadas”.

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O resultado destaca a lacuna que existe na formação e qualificação dos profissionais para lidar com a rotina do setor, principalmente neste cenário cada vez mais digital. Não à toa, aspectos como “gestão da cadeia de fornecimento” e “gestão dos prestadores de serviços” também se apresentam como pontos de atenção para os respondentes.

Principais desafios em relação a execução de obras e atividades por setor (em %):

Área de AtuaçãoConstrução e incorporaçãoServiços relacionados a construção, tecnologia e consultoriaComércio de materiais de construçãoFornecedores de insumos para construçãoIndústria de base
Atrasos devido à operação ineficiente de veículos581170
Atrasos e sobrecusto por acidentes04050
Aumento de carga tributária, custos e insumos500011
Avarias de equipamentos043390
Conhecimento sobre os materiais e componentes para cada obra/atividade1619111611
Dificuldade de replanejar por falta de informações sobre a obra/atividade114244336
Eficiência da mão de obra7462787444
Erros de execução/retrabalho3258444211
Furtos/roubos de materiais501170
Gestão dos prestadores de serviços5339441944
Integração digital com os sistemas dos parceiros212301622
Mudanças no clima160112611
Organização da obra1639223528
Perdas de materiais/entulhos1112221411
Prazo de entrega de materiais (fornecedores)5842224756
Prevenção de acidentes/segurança do trabalhador264221228
Tempo total de execução da obra3235333522
Fonte: Pesquisa primária para o estudo “Produtividade e oportunidades para a cadeia da construção” (Deloitte, 2022)

Qualificação da mão de obra

De acordo com o estudo, a cadeia de construção gasta R$ 301,48 bilhões com pessoas. Deste montante, a maior parcela (39%) é para o fornecimento de insumos, seguido pela Indústria de base (30%). Em terceiro lugar (20%), aparecem os gastos com os profissionais responsáveis pelas obras de engenharia e infraestrutura. São R$ 60,30 bilhões para este fim.

Entre os trabalhadores do setor, chama a atenção o aumento perceptível da escolaridade. Nas obras de engenharia e infraestrutura, apenas 23,9% possuía o ensino médio completo em 2007. Já em 2020, a porcentagem subiu para 53,2%. O número de analfabetos também caiu. Foi de 1% em 2007 para 0,5% em 2020. 

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Escolaridade do pessoal ocupado em obras de engenharia e infraestrutura (em %): 

20072020
Analfabetos10,5
Até 5º ano incompleto9,35,5
5º ano completo13,33,9
6º a 9º ano18,28,5
Fundamental completo21,213,4
Médio incompleto7,17
Médio completo23,953,2
Superior incompleto1,51,6
Superior completo4,46,3
Mestrado e Doutorado0,10,1
Fonte: Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED (2020)

Perspectivas da cadeia de construção no Brasil

Atualmente, a cadeia de construção no Brasil reúne cerca de 23 mil empresas com mais de 30 pessoas ocupadas. As receitas líquidas dessas companhias somam R$ 2,3 trilhões e elas empregam cerca de 3,7 milhões de pessoas. Segundo o levantamento da Deloitte, a maior parte desses números são oriundos de empresas fornecedoras de insumos para construção. 

São 9.424 companhias responsáveis por gerar R$ 1,03 trilhão em receita líquida e ocupar 1,4 milhão de pessoas. Em segundo lugar no ranking aparecem as 1.776 empresas da Indústria de base, que empregam 516 mil pessoas e geram receita líquida de R$ 981,1 bilhões. O Top 3 é fechado pelos 5.429 negócios relacionados a obras de engenharia e infraestrutura que contam com 1,1 milhão de pessoas ocupadas e um retorno de R$ 165,8 bilhões em receita líquida.

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O relatório prevê ainda que a cadeia de construção deve movimentar R$ 2,7 trilhões em projetos no Brasil até 2030. A maior parte dos investimentos (58%) seriam feitos em segmentos relacionados à infraestrutura, impulsionados pela aprovação dos marcos legais que norteiam a atividade.

Investimentos previstos (em R$ bilhões)Participação (em %)
InfraestruturaR$ 1.530,757,5
Indústria de baseR$ 817,530,7
ConstruçãoR$ 312,811,8
TotalR$ 2.661,0100
Fonte: Research&Market Intelligence – Deloitte com dados do Comitê Interministerial de Planejamento da Infraestrutura (CIP-INFRA) e do Plano Integrado de Longo Prazo da Infraestrutura 2021-2050 (PILP) (2021) e investimentos anunciados por empresas e associações/entidades dos setores