A imprevisibilidade é o principal desafio enfrentado pelas empresas dos setores de construção e incorporação e de serviços relacionados no Brasil. A “escassez ou aumento do custo dos recursos financeiros” é o maior obstáculo para companhias especializadas no comércio de materiais de construção, e a “escassez de materiais” é o que causa mais dor de cabeça aos fornecedores de insumos para construção.
É isso que mostra o estudo Produtividade e Oportunidades para a Cadeia da Construção Civil, elaborado pela Deloitte e divulgado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC). O levantamento também aponta a imprevisibilidade de câmbio como os maiores desafios para a Indústria de Base.
Principais desafios em relação a projetos por setor (em %):
Área de Atuação | Construção e incorporação | Serviços relacionados a construção, tecnologia e consultoria | Comércio de materiais de construção | Fornecedores de insumos para construção | Indústria de base |
Atraso de fornecedores | 68 | 56 | 46 | 62 | 50 |
Escassez de mão de obra qualificada | 68 | 56 | 55 | 60 | 45 |
Escassez de materiais | 74 | 30 | 73 | 62 | 50 |
Escassez ou aumento do custo dos recursos financeiros | 32 | 37 | 82 | 40 | 50 |
Falta de gestão | 5 | 0 | 9 | 0 | 5 |
Impacto das variações climáticas | 11 | 0 | 0 | 16 | 30 |
Imprevisibilidade de câmbio | 26 | 26 | 27 | 36 | 60 |
Imprevisibilidade de custos | 79 | 70 | 73 | 46 | 60 |
Imprevisibilidade do potencial de receita | 32 | 33 | 46 | 28 | 30 |
Problemas jurídicos ou regulatórios | 42 | 48 | 27 | 12 | 30 |
O estudo da Deloitte também questionou as companhias sobre os desafios que rodeiam um projeto no momento da construção dele, de fato. Para quatro dos cinco setores pesquisados (Construção/incorporação, Serviços relacionados, Comércio e Indústria de materiais de construção), a resposta é “a eficiência da mão de obra para execução e atividades demandadas”.
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O resultado destaca a lacuna que existe na formação e qualificação dos profissionais para lidar com a rotina do setor, principalmente neste cenário cada vez mais digital. Não à toa, aspectos como “gestão da cadeia de fornecimento” e “gestão dos prestadores de serviços” também se apresentam como pontos de atenção para os respondentes.
Principais desafios em relação a execução de obras e atividades por setor (em %):
Área de Atuação | Construção e incorporação | Serviços relacionados a construção, tecnologia e consultoria | Comércio de materiais de construção | Fornecedores de insumos para construção | Indústria de base |
Atrasos devido à operação ineficiente de veículos | 5 | 8 | 11 | 7 | 0 |
Atrasos e sobrecusto por acidentes | 0 | 4 | 0 | 5 | 0 |
Aumento de carga tributária, custos e insumos | 5 | 0 | 0 | 0 | 11 |
Avarias de equipamentos | 0 | 4 | 33 | 9 | 0 |
Conhecimento sobre os materiais e componentes para cada obra/atividade | 16 | 19 | 11 | 16 | 11 |
Dificuldade de replanejar por falta de informações sobre a obra/atividade | 11 | 42 | 44 | 33 | 6 |
Eficiência da mão de obra | 74 | 62 | 78 | 74 | 44 |
Erros de execução/retrabalho | 32 | 58 | 44 | 42 | 11 |
Furtos/roubos de materiais | 5 | 0 | 11 | 7 | 0 |
Gestão dos prestadores de serviços | 53 | 39 | 44 | 19 | 44 |
Integração digital com os sistemas dos parceiros | 21 | 23 | 0 | 16 | 22 |
Mudanças no clima | 16 | 0 | 11 | 26 | 11 |
Organização da obra | 16 | 39 | 22 | 35 | 28 |
Perdas de materiais/entulhos | 11 | 12 | 22 | 14 | 11 |
Prazo de entrega de materiais (fornecedores) | 58 | 42 | 22 | 47 | 56 |
Prevenção de acidentes/segurança do trabalhador | 26 | 4 | 22 | 12 | 28 |
Tempo total de execução da obra | 32 | 35 | 33 | 35 | 22 |
De acordo com o estudo, a cadeia de construção gasta R$ 301,48 bilhões com pessoas. Deste montante, a maior parcela (39%) é para o fornecimento de insumos, seguido pela Indústria de base (30%). Em terceiro lugar (20%), aparecem os gastos com os profissionais responsáveis pelas obras de engenharia e infraestrutura. São R$ 60,30 bilhões para este fim.
Entre os trabalhadores do setor, chama a atenção o aumento perceptível da escolaridade. Nas obras de engenharia e infraestrutura, apenas 23,9% possuía o ensino médio completo em 2007. Já em 2020, a porcentagem subiu para 53,2%. O número de analfabetos também caiu. Foi de 1% em 2007 para 0,5% em 2020.
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Escolaridade do pessoal ocupado em obras de engenharia e infraestrutura (em %):
2007 | 2020 | |
Analfabetos | 1 | 0,5 |
Até 5º ano incompleto | 9,3 | 5,5 |
5º ano completo | 13,3 | 3,9 |
6º a 9º ano | 18,2 | 8,5 |
Fundamental completo | 21,2 | 13,4 |
Médio incompleto | 7,1 | 7 |
Médio completo | 23,9 | 53,2 |
Superior incompleto | 1,5 | 1,6 |
Superior completo | 4,4 | 6,3 |
Mestrado e Doutorado | 0,1 | 0,1 |
Perspectivas da cadeia de construção no Brasil
Atualmente, a cadeia de construção no Brasil reúne cerca de 23 mil empresas com mais de 30 pessoas ocupadas. As receitas líquidas dessas companhias somam R$ 2,3 trilhões e elas empregam cerca de 3,7 milhões de pessoas. Segundo o levantamento da Deloitte, a maior parte desses números são oriundos de empresas fornecedoras de insumos para construção.
São 9.424 companhias responsáveis por gerar R$ 1,03 trilhão em receita líquida e ocupar 1,4 milhão de pessoas. Em segundo lugar no ranking aparecem as 1.776 empresas da Indústria de base, que empregam 516 mil pessoas e geram receita líquida de R$ 981,1 bilhões. O Top 3 é fechado pelos 5.429 negócios relacionados a obras de engenharia e infraestrutura que contam com 1,1 milhão de pessoas ocupadas e um retorno de R$ 165,8 bilhões em receita líquida.
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O relatório prevê ainda que a cadeia de construção deve movimentar R$ 2,7 trilhões em projetos no Brasil até 2030. A maior parte dos investimentos (58%) seriam feitos em segmentos relacionados à infraestrutura, impulsionados pela aprovação dos marcos legais que norteiam a atividade.
Investimentos previstos (em R$ bilhões) | Participação (em %) | |
Infraestrutura | R$ 1.530,7 | 57,5 |
Indústria de base | R$ 817,5 | 30,7 |
Construção | R$ 312,8 | 11,8 |
Total | R$ 2.661,0 | 100 |