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O que esperar dos próximos quatro anos para a habitação?

Setor imobiliário observa atento primeiros passos do governo para programas de habitação e diminuição de juros/ Crédito: Wilton Junior/ Estadão
Breno Damascena
04-11-2022 - Tempo de leitura: 3 minutos

Nos anos em que esteve à frente do Brasil, um dos pilares do governo do Presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi habitação. A criação do Minha Casa, Minha Vida, em 2009, é um dos marcos desse período. Com a volta do petista ao poder, o mercado imobiliário analisa o impacto na atual política de juros e nos programas habitacionais populares.

Perspectiva macroeconômica

Não é de hoje que analistas pelo mundo afora indicam um cenário de esfriamento do mercado imobiliário para os próximos anos. Essa concepção é alimentada por tópicos como a desaceleração da economia da China, a guerra na Ucrânia, os EUA na vanguarda do processo de aumento de juros e a alta inflação que o Brasil e outros países vêm enfrentando. 

Ao mesmo tempo que a pandemia fez o mercado residencial explodir, o que se enxerga a curto e médio prazo é uma queda. “O próximo ano é de recessão global. Não sabemos como ela vai se apresentar exatamente, mas vai acontecer”, examina Danilo Igliori, Professor do Departamento de Economia da USP e economista-chefe do DataZAP+. Ele acredita que a diminuição rápida da Selic pode contribuir positivamente com o setor.

“Entender em quanto tempo o novo governo consegue dar condição para o Banco Central começar a baixar juros é uma questão-chave. Essa movimentação estimula atividades econômicas e pode fazer com que o esfriamento do mercado imobiliário seja mais curto e menos agressivo”, comenta. “É preciso uma estratégia não populista de condução da política macroeconômica”, adiciona.

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Ele pontua que as ações tomadas pela equipe de transição nos primeiros dias pós-eleições indicam essa opção. “O governo encaminha a formação de uma coalizão forte e sólida no congresso e a reforma tributária aparece como uma prioridade”, enumera. “Mostrar que está cuidando dos gastos públicos e endereçando reformas pode dar um reforço de longo prazo para a questão fiscal.” 

Minha Casa, Minha Vida

No discurso realizado após a vitória nas urnas, Lula dedicou alguns segundos para reforçar o retorno do programa Minha Casa, Minha Vida. Responsável por cerca de 5,5 milhões de unidades habitacionais contratadas e mais de 4 milhões entregues até 2019, o projeto foi rebatizado para Casa Verde e Amarela durante a gestão Bolsonaro e passou por um processo de desidratação

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência. Por isso, vamos retomar o Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

Luiz Inácio Lula da Silva, 77, presidente eleito
Noite do dia 30 de outubro (domingo)

Na perspectiva de Luiz Antonio França, CEO da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliária (Abrainc), a iniciativa apresenta potencial positivo. “O programa é muito relevante para o setor, que está carente e deve oferecer mais recursos para as pessoas que precisam”, defende. “Ver revoluções acontecendo nos programas de habitação social é um divisor de águas.”

Ele enxerga que a atividade é capaz de auxiliar não apenas as pessoas que são beneficiadas diretamente com os programas de habitação do governo Lula, mas toda a cadeia de trabalhadores e o sistema envolvido. “O segmento da construção civil é importante para a geração de empregos e de impostos. Nos próximos anos temos um déficit para cobrir e aumentar o volume de obras vai ajudar”, acrescenta.

Próximos passos

O presidente da Abrainc conta que, ainda antes das eleições, a instituição encaminhou uma lista de propostas relacionadas à habitação para Lula e os outros candidatos presidenciais e que agora se prepara para acompanhar de perto as ações do governo. “Assim que os executivos das pastas forem nomeados vamos trazer um pouco das ideias que apresentamos para o plano de governo”, antecipa. 

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A jornada para que as transformações estruturais comece a acontecer no País, entretanto, passa por um planejamento de longo prazo. É isso que defende Igliori. “Você demora três anos para construir um prédio, alguns anos para conseguir o dinheiro da entrada e 20 anos para pagar. Depois, aquele edifício fica lá por muitas décadas. A dinâmica não pode ser apressada”, ilustra o professor. 

“Quando entra um novo governo, as pessoas são tomadas de esperança, mas não é assim que o setor funciona. Um crescimento sólido depende de uma caminhada com reformas macro e microeconômicas a longo prazo”, pontua. A solução que ele apresenta passa por conversar com os players do setor e utilizar o conhecimento que o mercado imobiliário brasileiro vem construindo nos últimos anos.