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Taxa do crédito imobiliário pode ir a dois dígitos pela 1ª vez desde 2017

As incertezas sobre o desempenho do PIB, a inflação elevada e a possível extensão de alta da Selic são consideradas como razões para a cautela/ Crédito: Getty Images
Circe Bonatelli e Matheus Piovesana, O Estado de S.Paulo
29-08-2022 - Tempo de leitura: 3 minutos

Mesmo com a demanda aquecida por crédito imobiliário, os bancos têm olhado com cautela o ambiente da economia brasileira e não descartam a possibilidade de elevar as taxas dos empréstimos para a faixa dos dois dígitos – algo que não acontece desde o fim de 2017, de acordo com dados do Banco Central. A taxa atual já belisca essa marca, com 9,8% ao ano na média, enquanto 12 meses atrás era 7,5%.

As incertezas sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) depois das eleições, a inflação elevada e a possível extensão do ciclo de alta dos juros básicos (Selic) são consideradas pelas instituições financeiras como razões para a cautela.

O diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Romero de Albuquerque, deixou a porta aberta para que os juros da casa própria superem a marca dos 10%. “Vai virar dois dígitos? Pode até acontecer”, afirmou, ao responder à pergunta sobre o tema em debate organizado pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e poupança (Abecip) na quinta-feira.

Ele ponderou que o setor já conviveu com juros de dois dígitos e, nem por isso, os lançamentos, as vendas e os financiamentos deixaram de acontecer. “Oxalá não veremos a necessidade de ir a dois dígitos. Mas não será um grande problema se isso acontecer”, disse.

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O presidente da Abecip, José Rocha Neto, minimizou o risco de que as taxas passem por disparadas, mas concordou que a marca simbólica de 10% pode ser ultrapassada. “Pode ser que um ou outro banco passe dos dois dígitos, mas vai chegar a 10% ou 10,5%, nada muito mais que isso”, ponderou, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Ele acrescentou que uma alta pontual não será suficiente para derrubar o setor. “Se cabe no bolso do consumidor e a mensalidade compensa na comparação com o aluguel, o mercado vai continuar funcionando”.

Em sua palestra, Rocha Neto destacou que este será o segundo melhor ano da história para o crédito imobiliário, passando, pela segunda vez, da marca de 1 milhão de unidades financiadas. Levantamento da associação mostra que crédito se acomoda em um patamar menor do que o de 2021, recorde, mas ainda assim aquecido.

Em vigília para crédito imobiliário

O diretor de crédito imobiliário e consórcio do Itaú Unibanco, Thales Ferreira da Silva, disse ao Estadão/Broadcast que não tem no radar perspectivas de mudanças na sua taxa “nem para cima, nem para baixo no curtíssimo prazo”.

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Segundo ele, o momento é de atenção ao mercado, monitorando a disponibilidade de funding (recursos da poupança para abastecer os financiamentos), curva futura de juros, concorrência, entre outros fatores.

O diretor de crédito imobiliário do Santander Brasil, Sandro Gamba, foi na mesma linha e disse que a posição do banco é de seguir monitorando o comportamento do mercado, sem tendência de alta ou baixa definida. “As taxas de juros ainda estão muito voláteis”, afirmou.

O diretor executivo de Habitação da Caixa Econômica Federal, Rodrigo Wermelinger, em conversa com a reportagem, afirmou que não há discussões sobre uma possível redução nas taxas de juros dos empréstimos mesmo diante da premissa de fim da alta da Selic. O carro-chefe do banco estatal é o crédito a 8,85% ao ano mais TR, portanto, abaixo da concorrência.

Movimentos dos bancos

• Bradesco

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O Bradesco mexeu na sua taxa de crédito imobiliário pela última vez em setembro passado. Na ocasião, subiu de 9% ao ano mais Taxa Referencial (TR) para 9,5% + TR

• Itaú Unibanco

O Itaú Unibanco recentemente subiu a taxa de 9,1% para 9,5% ao ano mais TR. Perguntado se sentiu impacto na demanda, o diretor de crédito imobiliário e consórcio, Thales Ferreira da Silva, disse: “A mudança ainda é muito recente, mas é natural que haja uma acomodação depois”

• Santander

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O Santander baixou a taxa em março, de 9,99% para 9,49% ao ano mais TR, buscando tornar-se mais competitivo. Esse corte, entretanto, não representa uma tendência “baixista”, ponderou o diretor de crédito imobiliário do Santander Brasil, Sandro Gamba

• Caixa Econômica Federal

O carro-chefe do banco estatal é o crédito a 8,85% ao ano mais TR. A Caixa ganhou participação no mercado de crédito imobiliário com recursos da poupança desde que a Selic começou a decolar no início de 2021. Em julho deste ano, respondeu por 60% dos financiamentos nesse segmento (no ano passado, oscilou de 40% a 45%), disse o diretor executivo de Habitação, Rodrigo Wermelinger

Esta matéria foi publicada anteriormente em:
https://www.estadao.com.br/economia/negocios/dois-digitos/

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