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O conceito de casa sempre esteve associado a permanência. A residência era o ponto fixo que definia onde pertencemos, onde criamos raízes e onde construímos nossa história. Mas esse paradigma está em transformação acelerada. Se o trabalho, o consumo e as relações sociais migraram para a nuvem, a própria ideia de residência e turismo de alto padrão também começa a se dissolver. Surge o nomadismo de luxo: um estilo de vida no qual a elite global circula entre propriedades e destinos, vivendo não em um lugar, mas em uma rede de experiências interconectadas.
Esse movimento já é visível. Clubes privados de residências oferecem acesso a centenas de casas em diferentes países, mediante associação. Redes de branded residences crescem de forma exponencial, transformando imóveis em extensões de marcas globais.
A tecnologia, por sua vez, garante conectividade, personalização e segurança que tornam viável uma vida sem fronteiras. Para o consumidor de alta renda, o luxo deixou de ser a posse estática de um imóvel e passou a ser a mobilidade fluida de um estilo de vida.
Esse fenômeno cria uma pergunta estratégica: onde o Brasil se posiciona nesse novo mapa? Temos litoral de 7.000 km, natureza exuberante, patrimônio cultural singular, cidades cosmopolitas, e um câmbio que, para o estrangeiro, torna o país atraente. Ao mesmo tempo, ainda somos tímidos em transformar esses ativos em infraestruturas globais de luxo.
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Nossos resorts de alto padrão são poucos, nossas branded residences ainda engatinham e nossos vistos e políticas migratórias não conversam com a realidade do viajante de luxo itinerante.
O nomadismo de luxo não é apenas turismo sofisticado. É um mercado que conecta real estate, hospitalidade, tecnologia e soft power. Países como Portugal e Emirados Árabes perceberam isso cedo. Ao oferecerem vistos dourados e estruturas para nômades de alta renda, atraíram não apenas turistas, mas capital permanente. Cada estrangeiro que adquire uma residência ou passa meses em um resort de luxo movimenta cadeias inteiras: gastronomia, arte, serviços de alto padrão, logística e, principalmente, investimento imobiliário.
O Brasil poderia – e deveria – se posicionar como hub global desse estilo de vida. Temos a geografia, a cultura e a hospitalidade que o luxo contemporâneo exige.
O que falta é transformar isso em projeto estratégico. Isso significa investir em resorts integrados a residências de marca, criar políticas migratórias específicas para atrair nômades de alto padrão, estruturar destinos em torno de conectividade global e sustentabilidade. Não se trata apenas de receber viajantes, mas oferecer infraestruturas de pertencimento temporário que transformem o país em residência emocional de elites globais.
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Do ponto de vista imobiliário, a lógica também muda. Se o luxo do século XX estava na posse de coberturas e mansões, o luxo do século XXI está no acesso a uma rede de propriedades em diferentes partes do mundo. Incorporadoras brasileiras têm a oportunidade de se conectar a esse movimento global, criando empreendimentos que já nascem com lógica internacionalizada.
Branded residences no Nordeste, vilas integradas a resorts na Amazônia, casas de campo no Sul conectadas a clubes globais. O valor não está mais apenas no metro quadrado, mas na narrativa de pertencimento que ele oferece a um público cada vez mais itinerante.
O nomadismo de luxo também dialoga com uma nova visão de sustentabilidade. Ao circular entre destinos, esses viajantes buscam autenticidade e consciência ambiental. Querem experiências únicas, mas sem culpa ambiental. Querem viver a natureza brasileira, mas com a segurança de que ela será preservada. Nesse sentido, empreendimentos que unam sofisticação e regeneração ambiental se tornarão não apenas diferenciais, mas pré-requisitos.
Se o turismo de massa do século XX transformou cidades como Paris, Nova York ou Rio em ícones globais, o turismo de luxo itinerante do século XXI criará uma nova geografia de hubs seletivos. E o Brasil pode escolher: ser coadjuvante, oferecendo experiências pontuais, ou ser protagonista, construindo uma rede de destinos de alto padrão que o posicione como plataforma global de estilo de vida.
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