Guia de Bairros

ESPECIAL: Santo Amaro – Rota do crescimento paulistano

O bairro, que já foi um município, tem história rica, diversidade cultural e, com investimentos viários e imobiliários, se reafirma como um bom lugar para viver

Por: Luiz Felipe Silva 13/12/2019 9 minutos de leitura
Fotos: Fellipe Abreu e Luiz Felipe Silva

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Na altura do número 5000 da Avenida Santo Amaro, uma estátua de 13 metros de altura dá boas-vindas a quem chega, no sentido bairro. Composta de argamassa e pedra e revestida de pedras coloridas de basalto e mármore, a homenagem ao bandeirante Borba Gato gera controvérsias estéticas e históricas. A Estátua da Liberdade santamarense, obra do escultor Júlio Guerra, para muitos é o grande símbolo de Santo Amaro. Trata-se de uma fama pouco justa para um bairro que, hoje, é um dos melhores lugares para viver em São Paulo.

De acordo com o Atlas do Trabalho de Desenvolvimento do Município de São Paulo, a área compatível com a subprefeitura de Santo Amaro é a terceira mais bem avaliada da cidade no Índice de Desenvolvimento Urbano (IDH), atrás somente de Pinheiros e Vila Mariana – a pontuação de 0,909 é similar à de países desenvolvidos como Japão e Áustria e superior à da França e Espanha. Daniel Höhne, gerente comercial, conhece bem as três regiões paulistanas mais bem posicionadas no ranking de qualidade de vida. Cresceu entre a Chácara Flora e a Granja Julieta, em Santo Amaro, mas, entre os 25 e 30 anos, morou ao lado do Parque do Ibirapuera e na badalada Vila Madalena. Hoje, aos 32, voltou ao bairro do coração.

Daniel Höhne, Pamella Almeida e o border collie da família, Bruce Lee: rotina de passeios no Parque Severo Gomes

“Santo Amaro tem tudo! A região se expande de forma orgânica, tem muito verde e é bastante segura”, explica Daniel, que vive com a namorada, Pamella Almeida. O casal tem na rotina passeios com seu cachorro da raça border collie pelo bem arborizado Parque Severo Gomes e jantares nas casas gastronômicas da região (confira algumas opções no quadro ao lado). “A oferta de bons restaurantes, lojas e bares cresce e é democrática: tem opções mais elitizadas e também comércio popular, no Largo 13 de Maio.” De inspiração italiana, a Casa Santo Antônio é o mais renomado dos restaurantes: há cinco anos figura na seleção Bib Gourmand, do Guia Michelin. Os vegetarianos Moinho de Pedra e Ambrósio se destacam na categoria comida saudável. E a dobradinha de bares Quintana e Veríssimo homenageia grandes escritores brasileiros com drinques e petiscos no Brooklin.

Ar europeu

A Rua Alexandre Dumas sedia as casas de tapas Maripili e Carmen La Loca, com comida espanhola e boa carta de vinhos, e a charmosíssima casa de chás Teakettle. Desde 2007, Sylvia Rodrigues serve mais de 100 tipos de infusão em um casarão com decoração e jardins com inspiração europeia. “Santo Amaro reserva ainda esse ar europeu. Há muitos estrangeiros que vêm para São Paulo e escolhem o bairro para viver: é perto dos escritórios da Berrini e tem qualidade de vida”, explica.

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Sylvia, 69 anos, morou no Itaim Bibi até o início da década de 1990, mas se mudou para Santo Amaro em busca de um ambiente mais sossegado, e que oferecesse boa estrutura. Ela destaca três aspectos. O primeiro deles é a quantidade de ruas arborizadas. O segundo, a quantidade de serviços oferecidos: a aproximadamente 5 quilômetros do Largo 13, marco zero do bairro, são pelo menos oito shopping centers e um mercado municipal – o Mercadão de Santo Amaro está em reconstrução após incêndio ocorrido em 2017 e é a primeira concessão do plano de desestatização da atual gestão, por R$ 51 milhões. O terceiro é a diversidade de gente. Há de tudo em Santo Amaro: portugueses, alemães, ingleses, coreanos, baianos, mineiros, paraibanos. “Eu aprendo muito com todos. Com a chegada de cada um deles, trocamos hábitos e costumes”, conclui.

Sylvia Rodrigues: ar europeu e qualidade de vida em Santo Amaro

5 séculos de história

População indígena, imigrantes e trabalhadores industriais desenharam a geografia e as interações da região

“Tenho uma relação emocional com Santo Amaro. É onde meus avós de origem portuguesa viveram e onde meus avós alemães escolheram para morar”, conta Daniel Höhne. Esse é o resumo da colonização local. Portugueses chegaram primeiro e firmaram aqui um povoado, em 1552, dois anos antes da fundação oficial de São Paulo. No século 19, foi a vez dos colonos daquela região que hoje conhecemos como Alemanha chegarem a estas terras.

Quando os europeus subiram a serra, encontraram indígenas das etnias Caiubi, Guarani, Kaiapó e Guaianases que chamavam a área como Birapuera (mata grande), Jeribatiba (nome do rio principal) ou variações desses termos. Os padres jesuítas, entre eles José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, catequizaram os povos originários e levantaram uma pequena e rústica capela. “Foi erguida em uma região alta, perto de rios e, em seu entorno, se firmou aquilo que Portugal definia como povoado”, explica Rafael Lopes de Sousa, doutor em história social e professor de mestrado da Universidade de Santo Amaro (Unisa).

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Padroeiro dos agricultores

O nome “Santo Amaro”, inclusive, chegou junto com a imagem do santo, o padroeiro dos agricultores, doada pelo casal João Paes e Suzana Rodrigues, em 1560. Desde então, a relíquia acompanha todas as transformações da igreja e da região. Em 1686, Santo Amaro foi elevado à categoria de freguesia, e a igreja, à matriz. A atual construção começou a tomar corpo em 1898 e apenas em 1924 se tornou aquela que é hoje a Catedral de Santo Amaro. De freguesia, Santo Amaro se tornou município. Assim, em 1833, foi oficializado que a área que vai desde a fronteira com Itanhaém até quase o Parque do Ibirapuera e da fronteira com São Bernardo do Campo até Itapecerica da Serra compunha seus limites territoriais.

Casado com Amélia de Leuchtenberg, da Baviera, D. Pedro I estimulou a chegada de colonos alemães, que assumiram as terras que hoje são Brooklin/Campo Belo e parte de Parelheiros/Cipó, com foco na lavoura. D. Pedro II deu seguimento à política e, em 1886, inaugurou a linha férrea que cruzava o então município. Santo Amaro era uma próspera e estável cidade até o governo Getúlio Vargas. Um ano após a nova Constituição Federal, de 1934, Santo Amaro é reintegrado a São Paulo, sendo relatado pelo plano de urbanismo como “destinado a constituir um de seus mais atraentes lugares de recreio”.

Industrialização acelerada

Com a reincorporação à capital paulista, o novo bairro paulistano, além de zona de veraneio, sobretudo nos arredores da Represa de Guarapiranga, começou a colher frutos do crescimento metropolitano. A industrialização acelerada levou grandes fábricas e galpões a grandes terrenos localizados nas margens do Rio Jurubatuba (rebatizado de Pinheiros). Esse processo foi o motor de mais uma onda migratória: desta vez, de trabalhadores nordestinos.

Homens e mulheres chegaram ininterruptamente entre as décadas de 1950 e 1970 para servirem de mãos e braços do crescimento da cidade. Sem que houvesse estrutura urbana para recebê-los, os migrantes avançaram na ocupação de áreas descampadas para construírem casas e vilas. Assim, bairros periféricos como Capão Redondo, Jardim Ângela e Grajaú se formaram e deram impulso a uma nova Santo Amaro.

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Cultura e infraestrutura

Bem atendida por transporte coletivo e grandes avenidas, a região se expande em tamanho

Uma das expressões culturais mais badaladas de Santo Amaro nasceu no Jardim Monte Azul, uma das vilas que compõem o Jardim São Luís. Nos anos 1980, José Marilton da Cruz, conhecido como Chapinha, 61 anos, começou um projeto social com samba e oficinas de música em seu próprio bar. Mais de três décadas depois, Chapinha e sua turma estão instalados na Casa de Cultura, onde todas as segundas-feiras, a partir das 21h, começa o Samba da Vela. “Incentivamos o samba, a poesia e a cidadania. A gente gosta de divertir e levantar a autoestima das pessoas”, anima-se Chapinha. A cada edição, até 150 pessoas dançam ao redor de uma vela – quando a chama apaga, acaba o som, sempre sem bebida alcoólica. Até o baixista Flea, do Red Hot Chilli Peppers, já esteve por lá.

Chapinha comanda o Samba da Vela. Todas as segundas-feiras, às 21h, a música começa na Casa de Cultura de Santo Amaro (Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, 434) / Foto: Nego Júnior / Samba da Vela

Da periferia de Santo Amaro vem o samba e também o rap. As crises econômicas, a “desindustrialização”, a falta de oportunidades de estudo e emprego e, consequentemente, a violência e o crime marcaram os anos 80 e 90. Em 1996, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Jardim Ângela teve taxa de 116 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2017, o Mapa da Desigualdade informa que foram 19,8 homicídios por 100 mil habitantes na mesma região.

“Campo minado”

Cantando as contradições da cidade mais rica do Brasil, em um dos bairros mais ricos da metrópole, o grupo Racionais MCs emergiu afirmando que a região “é um campo minado”, mas que “minha área é tudo que eu tenho, minha vida é aqui e não preciso sair” (Fórmula Mágica da Paz, do álbum Sobrevivendo no Inferno, 1997). Na esteira desse sucesso, o rapper Sabotage exaltou a região do Brooklin e sua “quebrada”, a Favela do Canão.

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Assassinado em 2003, Sabotage não viu seu bairro se consolidar como um dos polos econômicos do País. A Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini hoje sedia grande parte do produto interno bruto (PIB) brasileiro e está em franca expansão no sentido sul. Segue como Av. Chucri Zaidan, onde estão a TV Globo e o Shopping Morumbi. E, mais recentemente, foi inaugurada ainda sua continuação, a Av. Cecília Lottenberg, integrada ao complexo viário das pontes Laguna e Itapaiúna.

Urbanização crescente

O avanço do capital financeiro traz consigo mais estrutura urbana. Hoje, Santo Amaro é um bairro com boas alternativas de mobilidade. De carro, há fácil acesso para a Marginal Pinheiros e a Av. Washington Luís. Quem usa o transporte público, tem no Terminal Santo Amaro a oferta de 63 linhas de ônibus e 13,4 quilômetros de corredores nas vias principais. A cidade de São Paulo possui 503,6 quilômetros de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 473,3 de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 de ciclorrotas. A subprefeitura de Santo Amaro tem hoje 21,3 quilômetros de ciclovias e ciclorrotas ativas.

Já a inauguração de novas estações na Linha Lilás do metrô – Eucaliptos, Moema, AACD-Servidor (em 2018) e Campo Belo (em 2019) – realizou um sonho antigo dos santamarenses: a ligação direta com o centro da cidade. O transporte sobre trilhos, hoje, conta com a Linha Esmeralda, da CPTM, que liga Grajaú a Osasco, com integração à Linha Amarela. E com a Linha Lilás do metrô, entre Capão Redondo e Chácara Klabin, com integração às linhas Azul e Verde.

“A região é um vetor de crescimento. Melhorou a mobilidade com o investimento na parte viária. Seu desenvolvimento imobiliário está só desabrochando agora e fatalmente irá valorizar”, afirma Marcelo Bonanata, diretor comercial da construtora Helbor. “Santo Amaro atrai vários perfis: quem busca imóveis para viver ou para investir”, completa. Cada vez mais, como Sabotage cantou em 2001, Santo Amaro se firma como “um bom lugar”.

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A Estação Borba Gato, Linha 5-Lilás do metrô, foi inaugurada em 6 de setembro de 2017

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